O presente

Os objectos começaram simplesmente a desaparecer. Quando confrontada com o seu desaparecimento, fazia sempre o mesmo ar entristecido: não sabia.

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Kelli McClintock/Unsplash

Sonhou com a mãe, que lhe puxava o cabelo curto e grisalho com força, por esta lhe ter perdido a filha durante uma caminhada num sítio inóspito. Acordou, e ainda estremunhada na cama, concluiu que nunca se sentira bem perto da sua mãe. Nem sequer na idade em que todos os filhos e as filhas gostam da mãe e do pai, quando o universo da criança se restringe basicamente aos dois adultos que a trouxeram ao mundo. Não é que não gostasse da mãe, simplesmente não se sentia bem quando estavam apenas as duas. Não se sentia protegida, acarinhada, amada. E também não se lembra de confiar nas capacidades da progenitora, talvez porque a mãe lhe revelou muito cedo, com displicência e orgulho, que não as tinha.

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