Transplantados devem ser incluídos nos grupos prioritários a vacinar contra a covid-19

Comissão técnica de vacinação da Direcção-Geral da Saúde está a rever as patologias a incluir na segunda fase. Hipótese de usar só o critério da idade também está em avaliação.

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Rui Gaudencio

Os transplantados devem ser incluídos nos grupos prioritários a vacinar contra a covid-19 e faz sentido que sejam priorizadas igualmente as pessoas com neoplasias malignas activas na segunda fase da campanha, que vai arrancar durante o mês de Abril. São exemplos de algumas das patologias que, para a comissão técnica de vacinação contra a covid-19 da Direcção-Geral da Saúde (DGS), devem estar na lista das prioridades, numa altura em que aumenta a pressão para que a idade passe a ser o único critério, de maneira a facilitar e acelerar a operação.

O plano da vacinação contra a covid-19 está a ser revisto para refinar a lista de patologias a incluir a partir de Abril. O plano inicial previa que, na segunda fase, fossem vacinadas as pessoas com diabetes, hipertensão arterial, obesidade, doença renal crónica, insuficiência hepática, mas já se antevia então a inclusão de “outras patologias com menor prevalência” a ser definidas “em função do conhecimento científico”. Também entram nesta segunda fase todas as pessoas a partir dos 65 anos, mesmo sem doenças.

O problema é que as três primeiras patologias são de tal forma prevalentes – em Portugal mais de um quarto da população sofre de hipertensão arterial e mais de 10% tem diabetes – que na prática o processo adivinha-se muito complexo. Assim, a comissão técnica de vacinação está já a estudar “a revisão das patologias” a incluir na segunda fase, “quer no estabelecimento de critérios adicionais de priorização, quer na inclusão de novas doenças”, adiantou esta quarta-feira à Lusa o gabinete de comunicação da task force que coordena a vacinação contra a covid-19. “Este é um trabalho que se encontra a ser desenvolvido pela comissão técnica de vacinação contra a covid-19, no qual se inclui a patologia mental”, referiu a mesma fonte.

“Pessoas com deficiência intelectual”

A Lusa acrescenta que a inclusão de “pessoas com deficiência intelectual” está também a ser ponderada. A informação foi dada depois de, na segunda-feira, mais de 70 associações de defesa dos direitos das pessoas com deficiência terem repetido o pedido, junto da ministra da Saúde, para serem consideradas prioritárias na vacinação contra a covid-19. O gabinete da ministra da Saúde remeteu esclarecimentos para a task force, que respondeu que continua a seguir as orientações da DGS. “Considerando os grupos prioritários definidos para a fase 2 do plano de vacinação contra a covid-19, a escassez de vacinas, e a necessidade de incluir outras patologias com menor prevalência que podem estar igualmente associadas a risco acrescido de internamento e morte, tal como previsto no plano, está a ser realizada a revisão destas patologias”, revelou.

“O que é importante, em qualquer estratégia, é ver qual é a disponibilidade das vacinas e as pessoas que estão em maior risco. Se a disponibilidade de vacinas for muito elevada, não vale a pena ir à procura de grupos com determinadas doenças. Mas, se ainda temos poucas doses e se vamos começar a desconfinar, é urgente proteger os mais vulneráveis”, defende um elemento da comissão técnica da DGS. "A logística é um factor importante, mas não podemos deixar pessoas com determinadas doenças desprotegidas”, enfatiza. Além dos transplantados, os peritos estão a estudar a hipótese de incluir outros doentes também imunodeprimidos e pessoas com determinadas doenças mentais.

A Ordem dos Médicos (OM) já veio defender que, na segunda fase, as vacinas devem ser distribuídas apelas pelo critério decrescente da idade, argumentando que, durante a primeira fase, a selecção por doenças crónicas foi “lenta, complexa e, por vezes, até injusta”. “É preciso facilitar a vacinação para que seja muito mais rápida”, argumentou ao Expresso o bastonário da OM, Miguel Guimarães. A task force também já admitiu que este assunto está “em avaliação”.

Enquanto o plano não é revisto, cresce o número de profissionais e de associações de doentes a reclamar a inclusão nos grupos prioritários a vacinar contra a covid-19. Depois de os docentes e não docentes das creches, pré-escolar, dos ensinos básico e secundário terem já sido incluídos, alguns ainda na primeira fase que está em curso, os sindicatos que representam os professores, investigadores e funcionários do ensino superior vieram reclamar o mesmo. Mas a task force, que começou por admitir que a hipótese estava em análise esta quarta-feira de manhã, recuou de tarde, assegurando que este é “um assunto ainda não abordado”.

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