Só há uma Su-Wei Hsieh

Tenista de Taipé é a mais velha estreante nos quartos-de-final de um Grand Slam. Dominic Thiem eliminado do Open da Austrália.

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Reuters/KELLY DEFINA

É das mais divertidas e populares no circuito feminino, mas quando falou sobre a ausência de público no Open da Austrália, devido ao confinamento causado pela pandemia, Su-Wei Hsieh foi seriamente: “É bom termos todos a certeza que estamos em segurança.” Para logo depois atirar: “só estou preocupada com o Uber Eats, se ainda posso ter alguma coisa para comer no quarto.” A brincar, a brincar, Hsieh tornou-se, aos 35 anos, na mais velha estreante nuns quartos-de-final de um torneio do Grand Slam. É a sua 37.ª presença num major, 21 anos depois de ter visitado Melbourne Park pela primeira vez, para competir no Open júnior.

“Só há uma Su-Wei”, afirma Paul McNamee, o seu treinador australiano desde 2017, que contou um episódio, passado num torneio em Eastbourne, em que Hsieh estava a falhar muitas bolas por muitos metros e que só passado um tempo em que a avisou que a corda da raqueta estava partida; ela nem tinha reparado, pois raramente parte uma corda. “Ela é um espírito livre, não se pode prendê-la. O seu ténis reflecte a sua maneira de ser fora do court”, resume o ex-top 25 e detentor de quatro títulos do Grand Slam em pares, nos anos 80.

McNamee ajudou Hsieh igualmente a desfrutar da vida de tenista e, hoje em dia, a tenista conhece os melhores restaurantes asiáticos das principais cidades. Hsieh figura no 71.º lugar do ranking individual e é a número um na classificação de pares, variante na qual já conquistou 28 títulos, três deles do Grand Slam, mas o experiente treinador australiano realça o trabalho de equipa, que inclui também um preparador físico, um fisioterapeuta, ambos australianos, e outro treinador, Frederic Aniére, que, entretanto, se tornou namorado de Hsieh, com quem vive em Paris.

Depois de derrotar, por 6-4, 6-2, a checa Marketa Vondrousova (20.ª), diminuída por uma lesão na côxa esquerda, a jogadora de Taipé admitiu que tem um estilo particular, a que a própria designou de “Su-Wei style”: bate cedo na bola, com ou sem efeitos, explorando ângulos e surpreende com subidas à rede e amorties, jogando mais em colocação do que na potência, o que baralha a maioria das adversárias. A próxima adversária, Naomi Osaka, venceu-a em quatro dos cinco duelos, mas três decidiram-se no terceiro set.

“Se ela fosse uma personagem de videojogo, seleccionava-a. A minha mente não consegue entender as escolhas que faz no court. Não é divertido defrontá-la, mas é muito divertido vê-la jogar”, descreveu-a Osaka. Já Hsieh vai manter a mesma filosofia de vida. “Não estou preocupada com isso. Ela vai, provavelmente, esmagar-me no court. Vou tentar e logo se vê. Se perder, não perco nada: vou esperar que termine o confinamento e vou divertir-me”, afirmou Hsieh.

Osaka (3.ª) estendeu a invencibilidade pelo 18.º encontro consecutivo ao vencer Garbiñe Muguruza (14.ª), por 4-6, 6-4 e 7-5, depois de anular dois match-points a 3-5 (15-40) no derradeiro set, um deles com o 11.º ás. A japonesa, campeã aqui em 2019, somou um total de 40 winner e continua sem perder um terceiro set em Grand Slams desde o início de 2018 – uma série nunca vista desde Steffi Graf, entre 1995 e 1999.

No outro encontro dos quartos-de-final, Simona Halep (2.ª) defronta Serena Williams (11.ª) que, no primeiro embate com uma top 10 nos últimos 17 meses, venceu Aryna Sabalenka (7.ª), por 6-4, 2-6 e 6-4. Halep também precisou de três para ultrapassar a campeã de Roland Garros, Iga Swiatek (17.ª): 4-6, 6-1 e 6-4.

No torneio masculino, Dominic Thiem (3.º) foi claramente derrotado por Grigor Dimitrov (21.º): 6-4, 6-4 e 6-0. O vencedor do US Open, em Setembro, não aproveitou a vantagem de um break nos primeiros sets e acusou algum desgaste da ronda anterior, em que afastou Nick Kyrgios, em cinco sets, e, na terceira partida, ganhou apenas cinco pontos. Em contraste, Dimitrov, semifinalista aqui em 2017, foi muito consistente ao longo do encontro, no qual somou 25 winners.

Igualmente surpreendente foi a vitória de Aslan Karatsev (114.º) sobre Felix Auger-Aliassime. Na estreia em quadros principais do Grand Slam, o russo apurado do qualifying não só ganhou pela primeira vez um quinto set, como recuperou de 0-2 em sets: 3-6, 1-6, 6-3, 6-3 e 6-4. Karatsev é o primeiro tenista desde 1996 a chegar aos quartos-de-final na estreia em Grand Slams e o pior classificado no ranking a chegar tão longe no Open da Austrália desde 1991.

Com a entrada garantida no top 100, o russo de 27 anos, vai decidir um lugar nas meias-finais com Dimitrov.

Novak Djokovic apareceu na Rod Laver Arena recuperado da lesão abdominal e apesar de ter cedido um set e visto Milos Raonic assinar 26 ases, aproveitou três de 11 break-points para ganhar, por 7-6 (7/4), 4-6, 6-1 e 6-4. Nos quartos, o líder do ranking vai defrontar Alexander Zverev (7.º), que não perde um set desde que cedeu o primeiro que disputou neste Open.

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