Hospitais sob pressão. Na próxima semana podemos ter mais de 4500 doentes internados

Estimativas apontam, no cenário mais pessimista, para mais de 4500 doentes hospitalizados, seis centenas dos quais em cuidados intensivos, e a necessidade de mais de mil médicos e mais de oito mil enfermeiros para os tratar.

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Paulo Pimenta

Os hospitais públicos estão já sob grande pressão por causa da pandemia mas a situação ainda pode piorar substancialmente nos próximos dias porque a percentagem de doentes diagnosticados com covid-19 que acabam por ter que ser internados está a aumentar. E de tal forma que no final da próxima semana poderá haver mais de 4500 pacientes com covid-19 a ocupar camas nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS), mais de seis centenas dos quais internados em unidades de cuidados intensivos, se as previsões mais pessimistas da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) se confirmarem.

O aumento dos contactos de risco no Natal e na passagem de ano que se estará a reflectir no disparar dos novos casos de infecção pelo novo coronavírus – os quais bateram recordes, rondando os 10 mil nos últimos três dias – está a deixar os hospitais do SNS numa “situação muito complicada”, enfatiza o presidente da APAH, Alexandre Lourenço. “Muitos profissionais de saúde também se infectaram no Natal, há uma grande exaustão e a pressão está a crescer”, descreve, sublinhando que, se “os hospitais do Norte estão mais à vontade porque se preparam atempadamente”, os das outras regiões do país estão “no limite”.

Após um período de subdiagnóstico de casos de infecção provocado pela diminuição da testagem e dos rastreios de contactos durante o período de Natal e do fim do ano, a evolução da situação epidemiológica nos últimos dias implicou mesmo uma alteração do modelo matemático em que assentam as estimativas semanais que esta associação tem efectuado com base nos dados da Direcção-Geral da Saúde (DGS), com o contributo da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública (ANMSP) e da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna.

Percentagem de internados

Se antes a percentagem dos doentes diagnosticados que eram internados ascendia a 7%, agora aumentou para 7,8%, especifica Alexandre Lourenço, que avança várias explicações para este fenómeno. “Devemos ter mais infectados do que aqueles que estamos a detectar e estarão a adoecer pessoas mais vulneráveis”, com o tempo frio a implicar um agravamento do seu estado de saúde, pondera.

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Com base no relatório da DGS publicado nesta quinta-feira, esta ferramenta permite estimar para a semana seguinte o número de camas e recursos humanos nos hospitais: se para um cenário mais pessimista, com uma redução de 2% do índice de transmissão (Rt), em 15 de Janeiro serão necessárias 4557 camas hospitalares, das quais 615 em unidades de cuidados intensivos, no melhor cenário haverá 3355 doentes internados, 467 dos quais em cuidados intensivos. Na mesma data, e de acordo com as previsões mais pessimistas, serão necessários 1166 médicos, 8333 enfermeiros e 3196 auxiliares, números substancialmente acima das estimativas anteriores. 

Na mesma data serão precisos entre 3733 a 5564 rastreadores para os inquéritos epidemiológicos e o seguimento dos contactos de risco de casos positivos, que constituem uma das principais ferramentas para o controlo da pandemia. “A situação está muito complicada”, corrobora Ricardo Mexia, presidente da ANMSP. “Houve uma sucessão de factores que nos trouxe até este cenário. O alívio das restrições no Natal e a mensagem de que chegou a vacina e que, portanto, está tudo a correr bem contribuiu para esta situação”, observa. “O problema é que já temos muitos inquéritos epidemiológicos pendentes e não se reforçaram os meios no terreno”.

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