Protesto surpresa deixou Lisboa sem recolha de lixo dois dias

Trabalhadores recusaram serviço em protesto contra a perda de rendimentos. Sindicatos foram apanhados de surpresa. Câmara vai avançar com processos disciplinares.

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Nuno Ferreira Monteiro

Quem mora e trabalha em Lisboa já se terá apercebido de que a recolha de lixo está a falhar esta semana. Os caixotes encheram e permaneceram cheios, os sacos foram tomando conta dos passeios em redor. A situação não se verifica em toda a cidade, mas foi particularmente problemática em parte das freguesias de Arroios, Penha de França, Areeiro, Belém e Santa Maria Maior, entre outras, onde aos poucos se vai retomando a normalidade.

Na segunda e na terça-feira várias dezenas de trabalhadores do turno da noite da Higiene Urbana recusaram fazer a recolha de lixo, em protesto alegadamente porque a Câmara de Lisboa acabou com um subsídio que começou a atribuir durante o estado de emergência.

Esta tomada de posição surpreendeu as chefias municipais mas também os sindicatos, que não tinham entregado nenhum pré-aviso de greve. O PÚBLICO está desde terça-feira a tentar contactar o Sindicato dos Trabalhadores do Município de Lisboa, mas sem sucesso.

Já Carlos Moreira, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública (SINTAP), afirma que “houve alguma movimentação de colegas que não prestaram serviço” e que se tratou de “um movimento inorgânico”, sem intervenção sindical.

Por esse motivo, a câmara encara o protesto como uma greve ilegal, marcou falta injustificada aos trabalhadores envolvidos e vai abrir processos disciplinares, afirmou uma fonte do executivo municipal. Os funcionários não fizeram chegar à autarquia uma carta ou um caderno de reivindicações, mas o que estará em causa é a perda do subsídio que foi pago durante alguns meses. Trata-se, de acordo com a mesma fonte, de um “prémio temporário” que vigorou “durante o estado de emergência”.

Carlos Moreira diz desconhecer em concreto quais as queixas dos trabalhadores, mas crê estarem relacionadas com medidas tomadas por causa da pandemia. O SINTAP vai reunir-se na próxima semana com dirigentes municipais para tentar esclarecer o assunto.

Em Março, quando o país se confinou, os cantoneiros mantiveram-se a trabalhar, mas passaram a ter horários desfasados para garantir a rotatividade das equipas e, assim, evitar contactos excessivos entre trabalhadores.

Na quarta-feira, a câmara pediu ajuda às juntas de freguesia para recolher o lixo nas ruas e estas mobilizaram o seu pessoal da Higiene Urbana, usando os camiões de recolha da câmara. Se se tratasse de uma greve legal, este pedido seria proibido. A situação, no entanto, suscita dúvidas a Carlos Moreira, que a vai levar a discussão na reunião da próxima semana. “Não consideramos correcta a utilização de meios da câmara por trabalhadores das juntas. Percebemos a urgência de saúde pública, mas não se podem pôr em causa os princípios do trabalho.”

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