“Cheiros nauseabundos” preocupam moradores de Alverca

Agência Portuguesa do Ambiente e GNR procuram fonte do problema

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RG RUI GAUDENCIO

Moradores das zonas norte e central de Alverca queixam-se de cheiros “nauseabundos” que, nas últimas semanas, têm afectado esta área da cidade. A Câmara de Vila Franca de Xira já solicitou à Agência Portuguesa do Ambiente (APA) que averigue a origem dos maus cheiros, mas ainda não há conclusões. Nas vizinhas freguesias de Alhandra e do Sobralinho também há relatos de cheiros estranhos e de pessoas com sinais de irritação na garganta.

O Ministério do Ambiente sustenta que a APA teve, recentemente, conhecimento desta situação e “está a desenvolver, no âmbito do Plano de Fiscalização, diversas acções junto de operadores localizados na envolvente”. De acordo com o gabinete do ministro Matos Fernandes, após conhecimento da reclamação, foram também programadas mais acções de fiscalização “em estreita ligação” com o Serviço de Protecção da Natureza da GNR.

“Nos últimos dias toda a zona norte/central de Alverca do Ribatejo tem estado com um cheiro nauseabundo no ar. Principalmente durante a madrugada e primeiras horas da manhã. Mas ao longo do dia são várias as vezes em que o mesmo regressa. O cheiro é simplesmente horrível e por vezes temos de tapar o nariz para não ficarmos com vontade de vomitar”, sustenta João José Canário, um habitante de Alverca, que tem procurado averiguar a origem do problema, mas sente que se manifesta sobretudo desde a zona da Ribeira da Silveira (norte da cidade). João Canário reside em Alverca há mais de 40 anos e diz que não se lembra de uma situação tão grave de maus cheiros na área da cidade.

“Se ficar alguma janela aberta durante a noite, acorda-se com um cheiro horrível dentro da nossa casa. Alverca nunca teve este cheiro e cada dia que passa parece que alastra ainda mais”, constata o morador, que tem alertado os responsáveis autárquicos locais e diversas associações ambientalistas. João Canário julga que o problema se manifesta mais no período da manhã, mas não consegue perceber se estará associado a alguma actividade industrial. “Já me foi dada a explicação que são óleos alimentares ou que são farinhas. Para mim é outra coisa qualquer. Os ventos também não são justificação, pois nos últimos dias não há vento nenhum em Alverca e tem sido uma vergonha autêntica. Então o domingo (dia 22) de manhã foi demais, nem dentro de casa conseguimos estar, tal é a força deste cheiro nauseabundo”, denuncia.

A Câmara de Vila Franca de Xira confirmou, por seu turno, em resposta ao PÚBLICO, que os seus serviços de ambiente também “detectaram, de facto, a existência de um odor semelhante a óleo alimentar, entre o Sobralinho e a zona norte de Alverca”. Alberto Mesquita, presidente da edilidade vila-franquense, explica que, tendo em conta “a existência de algumas unidades industriais em zonas adjacentes, assim como o histórico de outras situações em que se verificou a ocorrência de emissões atmosféricas com potencial de liberação de odores semelhantes aos detetados”, a Câmara já oficiou a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), “alertando para a situação verificada”.

Segundo o edil, esta comunicação dirigida à APA “reitera as diligências já encetadas pela autarquia junto da APA noutras ocasiões, desenvolvendo a este nível as acções possíveis no quadro das competências municipais. Foi assim solicitado à APA que averigue com urgência a proveniência do foco poluidor e que informe esta Câmara das medidas adoptadas tendentes à sua superação, tendo naturalmente em conta as eventuais consequências desta ocorrência para a saúde pública e para o ambiente”, conclui Alberto Mesquita.

Já a Junta da União de Freguesias de Alverca e Sobralinho confirma que se têm sentido “fortes odores a farinha, principalmente quando os ventos sopram de nascente para poente”, mas que a verificação feita em vários locais (ribeiras e outros) não levou a “qualquer detecção de cheiros”. Por isso, a autarquia local diz que vai solicitar à Comissão de Acompanhamento Ambiental que funciona no âmbito da Assembleia Municipal que também avalie o caso.

Estudo da qualidade do ar avança

Na última reunião camarária de Vila Franca de Xira, Carlos Patrão, vereador do Bloco de Esquerda, abordou o tema, vincando que os problemas ambientais se têm manifestado também em Alhandra (a cerca de 5 quilómetros de Alverca). “Na vila de Alhandra voltaram a acontecer problemas e as pessoas queixam-se de irritação na garganta. E temos informação de que também ocorreram episódios de maus cheiros em Alverca”, observou o eleito do BE, questionando se já há resultados dos estudos à qualidade do ar no concelho que, na sequência de uma proposta que apresentou, foram aprovados na Câmara.

Alberto Mesquita reafirmou que a Câmara solicitou a intervenção urgente da Agência Portuguesa do Ambiente para detectar a origem do problema. “O estudo da qualidade do ar que solicitou está praticamente concluído. A Universidade Nova vai começar a fazer esse trabalho, em Novembro espero que tenhamos condições de saber com rigor o que se passa”, observou o edil, explicando que, no que diz respeito aos maus cheiros, a Câmara pediu à APA que tome as medidas necessárias.

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