O granito de Mondim é único e está a inspirar vários artistas

A Bienal de Mondim de Basto desafia à criatividade e inovação para (re)pensar e valorizar o granito amarelo.

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A 1ª edição da Bienal do Granito decorre até 8 de Setembro, em Mondim de Basto D.R.

O granito de Mondim de Basto é singular pela sua tonalidade amarelada mas depois da Bienal do Granito – que teve início em Maio e se estende até 8 de Setembro - será muito mais do que uma rocha ornamental. Nesta primeira edição, o grande desafio é criar valor a partir da criatividade. Destinado, quase na totalidade, à construção civil, o granito extraído das encostas de Mondim de Basto segue em blocos para todo o mundo. No entanto, é muito mais versátil do que se possa imaginar: dos excedentes dos grandes blocos, imaginam-se agora peças que podem ser práticas e belas.

O desafio lançado pelo Município de Mondim a alunos de Design do Produto, Escultura e Pintura da Escola Superior de Artes e Design (ESAD), do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC) e da Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto (FBAUP) foi, precisamente, a de serem criativos na forma como (re)pensam o material. Envolver os industriais neste processo com a Academia é essencial, contudo vai muito além da partilha de conhecimento técnico. Há toda uma cultura à volta do granito e Mondim de Basto assenta nessa realidade.

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Desafiar os criativos a pensarem novas formas de utilizarem o granito amarelo é o grande objectivo desta iniciativa D.R.

De acordo com o vereador do Mondim de Basto Paulo Mota, esta iniciativa passa essencialmente por: “Colocar alguém a pensar o granito de forma totalmente distinta e inovadora. Não temos a pretensão de alterar por completo a forma como esta indústria se ordena e gere. Mas temos a responsabilidade de introduzir estes factores de inovação e de espicaçar a indústria e procurar, por via da criatividade, acrescentar valor àquilo que já fazem”. Até agora, encontrar recursos que viabilizassem a implementação deste projecto foi o grande entrave para a concretização. Com o programa Mondim Coopera, pensado para o desenvolvimento de vários sectores de actividade económica, foi possível financiar grande parte da Bienal, que contou também com o financiamento do programa Portugal 2020.

Valorizar o granito amarelo de Mondim através de iniciativas culturais implica, também, o envolvimento da comunidade em vários aspectos – e também uma valorização local: “Queremos melhorar a imagem do granito até na própria vila. A partir daquilo que venha a ser produzido, aumentar a auto-estima das pessoas de Mondim à volta do granito”, explica Paulo Mota. 

A indústria também já se deixou inspirar

Nuno Cunha trabalha há quase vinte anos na transformação do granito e não hesita em afirmar que “tudo o que é para valorizar é bom”, mesmo quando algumas ideias parecem menos viáveis. Recorda, até, em jeito de desafio: “Antigamente tudo se fazia!” Conhece o granito amarelo melhor do que ninguém e assegura que “não há nada que não se faça”.

Mariana Faria tem uma percepção mais técnica das explorações de granito. No Município desde 2000, acompanha de perto a indústria e os industriais. “As pessoas estão muito viradas para a construção civil, para os muros, para o microcubo e estão a ser pensadas outras utilizações que permitem aproveitar o que, à partida, não presta”. É quase como uma solução “2 em 1”, aproveitar os excedentes e valorizar o granito com aplicações inovadoras. Mariana Faria foi uma das pessoas responsáveis por promover o diálogo entre industriais e criativos: “Foi fácil, eles estavam muito receptivos. Hoje em dia temos muitos jovens investidores e isso é uma vantagem”, conta-nos.

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Os alunos tiveram oportunidade de ver como é extraído o granito. D.R.

Criatividade e inovação para o futuro do granito amarelo

O desafio de olhar o granito de outra forma passa por adaptar o material a acessórios de cozinha, por exemplo, mas também por repensar criativamente aplicações comuns como o mobiliário urbano. Desta primeira Bienal do Granito de Mondim de Basto espera-se criatividade e inovação para o futuro do granito amarelo e, intrinsecamente, de Mondim.

Paulo Mota explica o trabalho promovido desde o arranque da Bienal, em Maio, e cujos primeiros resultados foram apresentados a 29 de Junho: “O trabalho incidiu muito sobre as características e as possibilidades do material e os alunos estiveram dois meses a produzir os protótipos das peças. Neste momento, possuem um conhecimento sobre o comportamento do granito amarelo que muita gente não tem.”

Sobre expectativas em relação ao certame, o vereador de Mondim de Basto arrisca: “Dos objectivos que a Bienal se propõe atingir, dois já foram conquistados: chamar a atenção dos media para o granito amarelo de Mondim e saber que temos uma geração de artistas, designers e escultores que nunca mais se vão esquecer do granito amarelo e que, se tiverem oportunidade, irão usar este material nas suas obras.”​

Há, neste projecto, uma proposta subtil de percorrer a paisagem granítica que conta, sem palavras, a história de Mondim – e rever essas histórias na criação patente nos trabalhos resultantes desta Bienal. Pode visitá-la até 8 de Setembro, em Mondim de Basto.