Será o k-pop a pegada cultural da unificação coreana?

Pelos países do Ocidente, têm sido milhões os miúdos, mas também graúdos, que se vão associando à febre da célebre cultura popular sul-coreana, também vulgarizada como K-Pop.

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Kim Kyung-Hoon/Reuters

Pensar na Coreia do Sul remete-nos, imediatamente, para uma de duas situações: tecnologia de ponta, um dos expoentes do progresso ou, então, o duradouro atrito com os vizinhos do Norte. Contudo, há uma terceira que se tem revelado preponderante: a cultura. Pelos países do Ocidente, têm sido milhões os miúdos, mas também graúdos, que se vão associando à febre da célebre cultura popular sul-coreana, também vulgarizada como K-Pop.

Pelas ruas da cosmopolita capital do país, Seul, são visíveis diversos cartazes a anunciarem futuros eventos, que tanto podem consistir em concertos, teatros ou filmes. Os transeuntes que param para ler com atenção, regra geral, ficam algo entre pasmados e eufóricos, numa combinação de sentimentos e emoções tão característica pelos passeios da cidade. 

Da música ao cinema, passando pela arte das telenovelas, esta tem sido uma das principais exportações da Coreia do Sul, na última década. A tendência tornou-se viral e global, auxiliada pela capacidade de influência das redes sociais e, em grande parte, graças ao fenómeno Gangnam Style, popularizado pelo artista Psy em 2012. As décadas de influência cultural passadas na sombra do Japão começaram a ser recuperadas desde então, mas sem abdicarem da sua própria essência.

O país preza o seu passado, legado e história, os costumes e tradições dos antepassados. E o seu povo faz questão de o demonstrar. Os visitantes não são o principal mote que os move, mas sim a preservação da sua identidade. A península coreana foi, historicamente, invadida em diversas ocasiões, pelo que a facilidade de perda de costumes culturais, quer por fusão, quer por obrigação, pudesse ser esperada. É por esta luta que os governantes sul-coreanos se têm esforçado e, nos últimos anos, a tendência tem levado tanto locais como turistas a uma crescente aceitação dos costumes tradicionais. Desde 2013 que visitar os palácios de Seul com o tradicional Hanbok vestido passou a ser grátis. Aliás, não só impulsionou um novo mercado e sector de negócio – o aluguer de Hanbok – como passou a permitir uma proximidade maior entre a população, visitantes estrangeiros e a história e cultura do país. Hoje em dia, ao entrar num dos principais complexos de palácios de Seul, os trajes são um dos primeiros apontamentos a sobressair, prova do sucesso da medida e da rápida e entusiasmada adesão do público.

Ultimamente, a moda alastrou-se a áreas tão diversas como a alta-costura e a indústria audiovisual, onde a música e o cinema se destacam. É neste ponto que a cultura da nova geração sul-coreana se pronuncia no panorama actual. Os BTS, considerados a maior boy-band do mundo – o que os torna, simultaneamente, a mais influente banda de K-Pop – reforçaram o papel de destaque do Hanbok, ao surgirem em diversas ocasiões vestidos com o mesmo e é neles que há quem veja uma chave para desbloquear mais um caminho de reaproximação entre as Coreias.

Cho Myoung-gyon, ministro da Unificação, afirmou, recentemente, que há conteúdo da cultura popular sul-coreana a ser consumido pelas camadas mais jovens da população norte-coreana, não obstante o controlo das autoridades do país. Em todo o caso, a banda poderá vir a ser o porta-estandarte dos próximos passos, num eventual concerto a decorrer em Pyongyang num futuro próximo.

Afinal, não deixam de ser dois povos separados por uma fronteira, mas com séculos de cultura conjunta. Serão poucas as partes, senão mesmo nenhuma, que melhor do que eles compreenderão como a identidade e laços culturais poderão ser a ponte que os esforços diplomáticos vão tentando construir.

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