O VAR e o caminho que ainda há a percorrer

Todos acham que quem faz de VAR não deveria arbitrar jogos e vice-versa, e percebem a lógica de no futuro serem os árbitros que terminam a carreira a dar continuidade na função.

Neste fim-de-semana que passou, fui no sábado até à Madeira (Marítimo-FC Porto) e no domingo até aos Açores, mais concretamente a São Miguel (Santa Clara-Sporting) a propósito dos comentários de arbitragem, como habitualmente e semanalmente faço. Para além de visitar duas regiões lindas e fantásticas do nosso Portugal insular, foi para mim uma oportunidade de falar com pessoas em geral e adeptos de futebol em particular, que obviamente, por viverem num local diferente do meu (Lisboa) têm uma sensibilidade, visão, modo de pensar e de ver as coisas diferentes da minha.

O tema-base, onde quer que fosse e com todos os que falei, foi inevitavelmente a arbitragem e o tema da moda, o videoárbitro (VAR). A principal conclusão que tiro é que todos, sem excepção, estão satisfeitos com esta nova tecnologia, ou melhor, acham que é útil, que confere mais verdade desportiva, que protege os árbitros, mas ainda são muito críticos a quem opera e está por trás do VAR. E apontam alguns exemplos de lances em que não conseguem entender a actuação do videoárbitro.

Todos também, sem excepção, acham que quem faz de VAR não deveria arbitrar jogos e vice-versa, e percebem a lógica de no futuro serem os árbitros que terminam a carreira a dar continuidade na função, sendo que também dizem que quem foi mau como árbitro não deveria ser convidado para VAR, e no contexto actual apontam alguns nomes e exemplos práticos.

Quando aprofundei a questão do VAR no sentido de perceber se as pessoas estavam por dentro do protocolo e das limitações que o mesmo impõe, percebi claramente que há muita falta de informação e conhecimento. E não pensem que é só o adepto comum que sofre deste mal: falei com dirigentes e jogadores no activo que têm muitas dúvidas quer em relação aos momentos de intervenção, quer em relação à forma e procedimento no decorrer do jogo.

Não obstante o Conselho de Arbitragem (CA) da Federação, no início da época, se ter deslocado aos clubes para esclarecer, de ter chamado à Cidade do Futebol a comunicação social e os ex-árbitros comentadores, de ter inclusivamente uma página onde publica periodicamente tudo o que diz respeito ao VAR, o facto é que são ainda muitas as dúvidas e as perguntas que se geram. Deste meu contacto e da análise que faço do que ouvi, reforço a ideia que já tinha: que me compete a mim e aos outros agentes que desempenham funções idênticas às minhas, na TV, nos jornais, nos blogues, continuar sistematicamente, e em cada lance que analisamos, a falar no VAR, na forma como actuou ou agiu, explicando o que diz o protocolo, e repetindo esta ação jornada após jornada, jogo após jogo, pois só assim poderemos contribuir para o tal esclarecimento. Ajudamos claramente o adepto no sentido de melhor compreender a tecnologia e, indirectamente, estamos a contribuir para um futebol mais saudável.

Contudo, há um caminho a percorrer por parte das instâncias oficiais, e nesse sentido há um conjunto de pequenas acções que poderiam ser realizadas pela Liga e pela Federação, nomeadamente nos estádios aquando da realização dos jogos: por exemplo, passar nos écrans, antes do jogo e no intervalo do mesmo, o filme da FIFA sobre o videoárbitro, ou fazer um novo adaptado a Portugal, com a explicação dos quatro momentos de intervenção. Distribuírem panfletos com o protocolo ou pequenas informações, realizarem passatempos com perguntas e respostas, terem bancas a distribuir essas informações.

Num plano mais acima terem a Federação e a Liga, os seus embaixadores, a deslocarem-se aos clubes para efectuarem acções de formação ou uma ligação com o provedor dos adeptos, estenderem essas acções às diferentes cidades e regiões onde há clubes do futebol profissional, para levarem a cabo debates e sessões de esclarecimento. É que, por trás de tudo isto, está um contacto de proximidade, que claramente "humaniza as pessoas" e, consequentemente, o futebol. E agora imaginem se tudo isto fosse feito com jovens, quer na formação dos clubes, quer nas  escolas. Aí estaríamos, garantidamente, a trabalhar no presente e a salvaguardar o futuro.

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