Jorge Jesus deixa Portugal, mas quer voltar

O ex-treinador do Sporting tem uma cláusula de confidencialidade com o emblema de Alvalade, que o impede de falar sobre o clube.

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Jorge Jesus falou esta sexta-feira sobre a "multiculturalidade no futebol" LUSA/ANDRÉ KOSTERS

Jorge Jesus vai para a Arábia Saudita, onde será durante uma época o treinador do Al-Hilal, naquela que será a sua primeira experiência fora de Portugal. Mas o ex-técnico do Sporting, clube com quem rescindiu contrato por mútuo acordo, não escondeu o desejo de regressar a Portugal: “Saio com o objectivo de voltar.”

Em relação ao Sporting, Jorge Jesus não se alongou e recusou abordar o período conturbado que viveu nos seus últimos meses em Alvalade. Isto porque o técnico está legalmente impedido de falar sobre o assunto, dado à existência de uma cláusula de confidencialidade no seu acordo de rescisão com Sporting. Mas deu a sua opinião sobre o que pode ser a próxima temporada. "Sei que das três equipas qualquer uma pode vencer [título de campeão nacional]. O FC Porto e o Benfica estão mais perto. Quando cheguei ao Sporting vindo do Benfica senti que era mais difícil ser campeão, senti que o clube não tinha certas coisas para ser vencer o título", afirmou o treinador português num evento promovido pela International Club of Portugal e que tinha como tema de discussão: "A multiculturalidade no futebol".

Apesar de considerar que “encarnados” e “azuis-e-brancos” reúnem mais condições que o Sporting para conquistarem o título nacional na próxima temporada, o novo treinador do Al-Hilal garante que o seu trabalho ao longo das três épocas ao comando dos "leões" serviu para aproximar a equipa dos rivais. "Deixámos um legado e condições que são precisas para se poder ganhar. Hoje, o Sporting está mais perto dos rivais", garantiu Jesus.

A primeira experiência no estrangeiro

O treinador considera o facto de ir treinar pela primeira vez um clube fora de Portugal uma experiência bastante valiosa. "Vou partir para um país completamente diferente, para uma cultura árabe, vou lidar com jogadores que na maioria não conheço ainda [risos], mas vai ser uma experiência muito rica", reiterou Jorge Jesus.

Em relação à sua saída para a Arábia Saudita, o técnico português garante que foi a "paixão" ao futebol que o fez aceitar a proposta do actual campeão saudita, revelando que exigiu à direcção do Al-Hilal um tradutor que falasse árabe, como forma de chegar mais facilmente ao “coração” dos atletas. “Se fosse um tradutor que falasse em inglês não conseguiria transmitir a paixão que se consegue através do árabe. Disse ao presidente do Al-Hilal que não queria um tradutor que não falasse árabe”, revelou o técnico. 

Sendo o tema da conferência a multiculturalidade no futebol, Jesus deixou o seu testemunho enquanto líder de atletas de várias nacionalidades, de diferentes culturas e religiões. O técnico recuou à primeira época como treinador do Sporting e referiu o caso do avançado argelino e muçulmano Slimani, que na época do Ramadão, devido a jejuar até ao pôr-do-sol, chegou a desmaiar três vezes durante duas sessões de trabalho." O Slimani que fez uma época espectacular, chegou a desmaiar três vezes durante duas sessões de treinos", afirmou o antigo treinador de Sporting e Benfica, entre outros clubes.

Apesar de concordar que o futebol é uma "linguagem universal", Jesus assegura que as diferenças culturais dentro de um plantel obrigam a um trabalho diferente e mais personalizado por parte do treinador em relação aos atletas: "Trabalho com pessoas de várias nacionalidades, religiões. Isso obriga-nos a trabalhar de maneiras diferentes", esclareceu.

O panorama actual do futebol português

O antigo técnico "leonino" falou ainda dos tempos conturbados que o futebol português atravessa. Jesus sublinhou que a obrigação — de mudar o ambiente difícil que se vive hoje em dia na modalidade — passa por todos os seus intervenientes, sobretudo a nível da comunicação por parte dos dirigentes desportivos. O treinador defendeu ainda a ideia de que "não vale tudo para vencer".

"Em Portugal começou a perceber-se que a comunicação também é um jogo que ajuda a atingir os objectivos, é uma luta constante, mas todos nós temos de mudar a nossa forma de pensar e comunicar e tem de se perceber que não vale tudo para vencer", disse o novo treinador do Al-Hilal.

Em contraste com o ambiente cinzento em torno do futebol português, o técnico realçou a qualidade dos treinadores portugueses, afirmando que são reconhecidos internacionalmente pelo seu carácter e capacidade de inovar. "Os treinadores portugueses são trabalhadores, inovadores e vencedores natos. Por isso há tantos portugueses a serem desafiados para ir para o estrangeiro", elogiou Jorge Jesus.

As mudanças de clube

Jorge Jesus confessou que não imaginava que a sua saída do Benfica fosse um momento tão difícil para a massa associativa “encarnada”, sobretudo para os mais jovens. "Quando mudei do Benfica para o Sporting não tinha noção das repercussões que isso ia ter nos sentimentos das pessoas. Comecei a perceber isso na rua, quando muitos miúdos, de dez e 11 anos, me perguntavam a chorar porque é que tinha mudado", reconheceu o técnico.

Acerca da saída do Sporting, o treinador reconheceu que apesar de ser uma decisão difícil é a que protege melhor os seus interesses financeiros e profissionais. "Não é fácil para mim, mas tenho de ir à procura dos meus interesses profissionais e financeiros", garantiu.

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