O que Marcelo nos diz

Com uma frase, o Presidente mostra como é diferente de António Costa - e o põe sob pressão. E como deseja muito fazer outro mandato. Acabou o tabu.

“Voltasse a correr mal o que correu mal no ano passado, nos anos que vão até ao fim do meu mandato, isso seria só por si, no meu espírito, impeditivo de uma recandidatura”. Esta é claramente a frase mais importante da segunda parte da entrevista do PÚBLICO/RR com o Presidente da República que hoje publicamos. E que nos revela várias coisas.

A primeira é que Marcelo Rebelo de Sousa entende que, para o bem e para o mal, o seu futuro está intimamente ligado aos fogos de 17 de Junho e ao 15 de Outubro e ao que o país conseguir corrigir para que algo semelhante não se repita. Quando fez uma declaração ao país no ano passado, em que exigiu um pedido de desculpas aos portugueses por parte do primeiro-ministro e a demissão da então ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, Marcelo já tinha dito que os mais de 100 mortos nunca mais sairiam do seu pensamento “como um peso enorme” na sua consciência, tal como no seu mandato presidencial. Agora, dá o passo em frente.

Em segundo lugar, diz-nos como Marcelo é um homem diferente de António Costa - e põe o primeiro-ministro sobre pressão total. Em Março, em entrevista à Visão, quando questionado sobre se demitiria caso houvesse nova tragédia este Verão, o primeiro-ministro respondeu com um definitivo não. “Quando há um problema, a solução não é demitirmo-nos, é estarmos prontos para resolver o problema. É isso que temos feito e é isso que vamos continuar a fazer", dizia António Costa. E agora?

A verdade é que o Presidente, nesta entrevista que publicamos, nunca critica o Governo, elogia o seu empenho em montar um dispositivo eficaz de combate e prevenção dos fogos, mas expõe à evidência a forma com que cada um dos protagonistas encara o exercício do cargo.

Por fim, com esta frase, Marcelo Rebelo de Sousa revela também que a sua recandidatura já não é um tabu. Quando se apresentou na campanha das presidenciais, o professor de Direito fazia questão de repetir que só queria um mandato, depois admitiu que só decidiria muito lá para a frente, no Outono de 2020. Agora, fica claro como água que Marcelo deseja muito voltar a ser Presidente por mais cinco anos. E com uma maioria esmagadora.

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