Playboy: a primeira “playmate” transgénero está a causar ondas

Ines Rau, francesa de 26 anos, é a primeira "playmate" transgénero da Playboy, mas o anúncio está longe de ser consensual. "Tomei a decisão porque é a decisão correcta, independentemente dos comentários", diz Cooper Hefner. A modelo, por seu turno, admite que não sabia que "existiam tantos transfóbicos"

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Ines Rau, uma modelo francesa de 26 anos, está prestes a ser a primeira playmate transgénero da Playboy, anunciou a revista norte-americana na quinta-feira. Mas esta não vai ser a primeira vez que a modelo aparece na revista: em Maio de 2014, já tinha sido fotografada para um especial chamado Evolution sobre a aceitação da identidade de género não-binária; e, diga-se, em 1991, Caroline "Tula" Cossey, uma bond girl, já tinha o título de primeira mulher transgénero a posar para a Playboy.

Ines vai ocupar as páginas centrais da edição de Novembro da revista, com um total de sete fotografias. Estava tudo planeado para figurar também na capa, que entretanto foi alterada para apresentar uma fotografia de 1965 de Hugh Hefner —  uma homenagem ao fundador da revista que morreu aos 91 anos, no final de Setembro.

A modelo, que começou a transição aos 16 anos e fez a cirurgia de mudança de sexo pouco depois, já foi fotografada para a Vogue italiana e protagonizou ainda uma campanha da Balmain. Acaba de gravar um filme e prepara-se agora para lançar um livro. Ter sido escolhida como playmate do mês foi “o elogio mais bonito que alguma vez recebeu”, lê-se no site da revista. Ao New York Times conta que a sessão de fotografias fê-la pensar em como costumava esconder-se “no quarto às escuras” em criança, quando ainda era um rapaz, e de como agora estava em Los Angeles, “linda e a sentir-se fantástica”. “Chorei de felicidade”, disse ao jornal norte-americano.

Quem não partilhou a mesma alegria foram alguns dos leitores da revista, que consideram que a escolha editorial “não se enquadra no perfil da revista”. “É inacreditável a falta de conhecimento que as pessoas têm sobre o que ele [Hugh Hefner] estava a tentar conseguir”, disse Cooper Hefner sobre o pai, no mesmo artigo do Times, onde também contou que os comentários nas redes sociais desde o anúncio são semelhantes às cartas que a revista recebeu depois de ter apresentado a primeira playmate negra, numa edição em 1965

“A Playboy tem (e costumava) ter imagens de mulheres. Eu também não quereria ler um artigo sobre cavalos numa revista de pesca”, lê-se num dos comentários no Twitter que a revista destacou numa série de imagens que mostra reacções deste ano e de 1965 (vê o exemplo à esquerda). “A edição ‘estou a rebolar na minha campa’”, escreve outro leitor, no post que anuncia a capa com a fotografia de Hugh Hefner. Há leitores que vão mais longe e avisam que cancelaram a subscrição depois de uma “edição que celebra o legado do fundador com homens nus”.

Ao New York Times, Cooper Hefner, que agora gere a revista, sublinha que não se arrepende da decisão que tomou — não o fez para os “fãs ficaram satisfeitos”, mas sim porque era a coisa certa a fazer, “independentemente dos comentários”.

"Sou uma defensora de toda a gente que tem medo de ser quem realmente é porque têm medo de serem julgados ou rejeitados”, diz Ines que, face às reacções nas redes sociais, admitiu não saber “que existiam tantos transfóbicos”. Mas as críticas só a deixaram “mais orgulhosa e feliz”, diz, porque mostram que está a contribuir para a "mudança de mentalidades".

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