Atentados em Bruxelas: ideias à prova de bala

O que me aterroriza é irmos armados com pólvora e espadas para uma guerra contra uma ideia. O problema das ideias é que elas são e sempre serão à prova de bala

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Hoje, terça-feira, é mais um dia de pânico, morte, tristeza e revolta. Criou-se um novo 22 de Março, em Bruxelas, para acrescentar ao 13 de Novembro (Paris) e ao 7 de Janeiro (Charlie Hebdo, Paris). Quando eu era miúda, o terrorismo que nos ensinavam na escola equivalia ao 11 de Setembro e ao 4 de Março. Apenas. Sem necessidade de identificação da localidade, porque, embora com proporções e fatalidades incontáveis, foram circunstâncias pontuais. Hoje, as datas tornam-se muitas para se memorizarem. Das recentes, apenas referi duas por terem sido — estarem a ser — as mais marcantes no que toca às cidades atingidas e às proporções tomadas. Porém, se for honesta, as datas multiplicam-se e a lista inclui também Beirute (12 de Novembro), Sinai (11 de Novembro), Egipto (31 de Outubro), Ancara (10 de Outubro), Saint-Quentin-Fallavier, Sousse e Kuwait (26 de Junho), os ataques diários na Síria, entre tantos, tantos outros.

O mundo ocidental está a ser discriminadamente atacado, sem piedade, sem consequências medidas, sem escrúpulos. A perspectiva de uma III Guerra Mundial nunca me pareceu tão próxima. Só que nunca, por um segundo, pensei que seria uma batalha entre civilizações e ideologias religiosas.

Não julgo Alah. Não julgo os muçulmanos e muito menos os refugiados! A verdade é que são, na sua imensa maioria, vítimas que se vêem agora atacadas dos dois lados desta guerra do terror. Ou porque não professam a mesma religião e com a mesma intensidade, ou porque partilham origens com os fundamentalistas que estão a fazer tremer o mundo tal como o conhecemos

Hoje, trememos, uma vez mais. Vamos chorar as mortes e a destruição. Vamos fechar ainda mais as barreiras. Vamos construindo, tijolo a tijolo o início da luta. A questão que mais me preocupa, não é pegar em armas e lutar — embora abomine a violência. Não, o que me aterroriza é irmos armados com pólvora e espadas para uma guerra contra uma ideia. O problema das ideias é que elas são e sempre serão, como escreveu Alan Moore, à prova de bala.

Resta-nos acreditar no poder das nossas ideias também. Ideias de liberdade, respeito, aceitação pelas diferenças entre nós e os outros, humanos, ideias de paz e ideias de amor pelo próximo, porque "é urgente o amor, é urgente um barco no mar / é urgente destruir certas palavras, ódio, solidão e crueldade, alguns lamentos, muitas espadas".

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