Froome: “Era impossível deixar passar esta oportunidade”

Chris Froome vai tentar juntar o seu nome aos de Eddy Merckx e Bernard Hinault como o terceiro ciclista a vencer as três grandes Voltas em 12 meses.

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Froome na véspera de iniciar a sua participação no Giro Reuters/AMMAR AWAD

É com a suspeita de se ter dopado na Volta à Espanha de 2017 que Chris Froome parte para a edição deste ano da Volta à Itália, uma das três grandes provas do ciclismo de estrada, que arranca nesta sexta-feira, em… Israel e terminará a 27 de Maio, em Roma. O britânico, contudo, garante que está de consciência tranquila e completamente focado em vencer, pela primeira vez, o Giro. Se o fizer, Froome juntará o seu nome aos do belga Eddy Merckx e do francês Bernard Hinault, os únicos que conseguiram vencer Giro, Tour e Vuelta de forma consecutiva até aos dias de hoje.

O belga foi o primeiro a fazê-lo, conquistando a Volta a Itália e a Volta a França em 1972 e a Volta a Espanha em 1973, triunfando novamente no Giro de 1973. Já o francês conquistou a prova italiana e francesa em 1982, para ganhar a corrida espanhola em 1983. Agora, é a vez do ciclista britânico lutar pela “tripla coroa”, apesar de estar a ser investigado por um controlo antidoping positivo na 18.ª etapa da Vuelta do ano passado, no qual acusou a presença do broncodilatador salbutamol em níveis superiores aos permitidos pela Agência Mundial Antidopagem (AMA).

A defesa do corredor alega que o britânico sofreu uma disfunção renal, mas a questão continuará a ser investigada para lá do término da prova italiana. Froome diz que a investigação será apenas mais um obstáculo que terá para ultrapassar, juntamente com um percurso de 3546km. O traçado deste Giro inclui oito chegadas em alto, incluindo ao temível Monte Zoncolan, e dois contra-relógios, o primeiro dos quais já hoje, de 9,7km, na etapa inaugural da prova.

Quanto a adversários, Tom Dumoulin, ex-vencedor do Giro, será um deles. E o holandês tem sido um dos muitos que tem criticado Froome por continuar a competir enquanto a investigação sobre a suspeita de recurso ao doping por parte do britânico não é concluída. “Se fosse o Froome, não estaria aqui", limitou-se a comentar, ontem. O italiano Fabio Aru, também ele um ex-vencedor da prova, é a grande esperança dos italianos.

Em declarações ao Eurosport e, publicadas em exclusivo em Portugal pelo PÚBLICO, Chris Froome fala das suas expectativas para o Giro e no incómodo que é participar na prova com uma nuvem a pairar sobre a sua cabeça.

Correr no Giro não irá prejudicar a sua preparação para o Tour e as ambições de o vencer pela quinta vez?
Não vejo que [competir no Giro] seja assim um risco tão grande no que diz respeito ao Tour, até porque, este ano, há mais uma semana de intervalo entre as duas corridas. Seis semanas. Não nos podemos esquecer que o ano passado estive na Volta a França e na Volta a Espanha, que têm apenas quatros semanas a separá-las o que, supostamente, é ainda mais arriscado, tendo em conta o pouco tempo entre ambas as provas. O facto de ter conseguido fazer isso o ano passado, deu-me muita confiança para este ano, ainda por cima porque venci o Tour e a Vuelta. Era impossível deixar passar esta oportunidade de ganhar as três grandes Voltas num período de 12 meses.

Sente-se em forma no arranque do Giro?
Se olhar para o que fiz há um ano, posso dizer que comecei a Volta a França sem estar no meu melhor, mas fui melhorando a minha condição física durante a prova e estava ainda melhor na Vuelta. É mais ou menos da mesma forma que encaro este Giro. Ou seja, não fiz ainda muitos quilómetros esta temporada, mas fiz muitos treinos, em especial em altitude. Por isso, espero ter feito o meu ‘trabalho de casa’ e quero acreditar que irei melhorando à medida que a corrida for decorrendo. Vai ser uma prova incrível.

Está a pensar fazer algum tipo de poupança, pensando na Volta a França?
Não haverá poupanças, de certeza. Quando estamos no meio de uma grande Volta estamos a vivê-la, literalmente, dia-a-dia. Estamos a tentar sobreviver àquele dia e talvez a pensar no dia seguinte e naquilo que podemos poupar para esse dia seguinte. Para além disso, não pensamos. Não pensamos na semana seguinte, no mês seguinte e, seguramente, seis semanas mais à frente. Quando começar a competir no Giro estarei completamente focado na prova e só depois de a terminar poderei começar a focar-me no Tour.

A investigação em curso sobre a suspeita de utilização de substâncias dopantes não o vai afectar?
Ao longo da minha carreira sempre enfrentei as adversidades. Aprendi a bloquear tudo o que me pudesse distrair e a concentrar-me no objectivo que tinha pela frente. Claro que não tem sido fácil. Não tem sido fácil preparar-me para o Giro sabendo… tendo em mente que era suposto isto ser uma investigação confidencial… Certo é que ainda não fui acusado de nada e espero ser completamente ilibado de qualquer conduta incorrecta, porque não fiz nada de errado. Eu sei que, quando as pessoas olham para o ciclismo lembram-se do que aconteceu no passado e pensam ‘aqui vamos nós outra vez, novamente a mesma história’. É frustrante, mas não posso fazer nada. Apenas tenho de seguir em frente e tentar que isto se resolva o mais rapidamente possível. É um processo complicado e estamos a tentar acompanhá-lo, mas nem sempre é simples e estamos a dar o nosso melhor para o esclarecer.

Como se sente ao iniciar este Giro com o estatuto de favorito?
É empolgante. Nunca competi no Giro com a perspectiva de o ganhar, nunca estive na linha da frente, pronto para lutar com os mais fortes e competir pela conquista da camisola rosa. Estou desejoso de que comece e para perceber de que forma vou conseguir recuperar depois e ficar em forma para a Volta a França. É um desafio enorme para mim e que estou a enfrentar de braços abertos.

E quanto a um possível quinto triunfo no Tour?
Nem sequer vou pensar nisso neste momento. Seria um sonho ganhar pela quinta vez o Tour e juntar-me àquela elite de corredores que o conseguiram fazer, mas não é algo que me vá ocupar a cabeça até que tal possa suceder. Em cada ano aprendi imenso, como pessoa e como ciclista, tem sido uma experiência incrível.

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