Tens a certeza?

Quanto a certezas, poucas ficam: quanto mais sabemos menos as temos e quanto mais vivemos mais deturpamos o que supostamente sabemos

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Eder Pozo Pérez/Unsplash

Desconfio de quem tem certezas absolutas de tudo. Desconfio cada vez mais. Mas também desconfio de quem diz, em jeito de citação descartável, “só sei que nada sei”.

Hoje em dia sabemos muito. Não decoramos coisas até ao infinito como antigamente, mas sabemos como aprender a aprender mais, pesquisando, chegando ao que queremos especificamente saber. Mas, por mais que saibamos e tenhamos conhecimento de uma determinada área, nunca saberemos tudo o resto. É quase impossível, nesta sociedade da informação em rede, ficar isolado sem nada saber ou, de uma forma consciente e honesta, pensar que se sabe tudo.

Então e aquele conhecimento que pensamos deter, com toda a certeza, será certo? Talvez não, pois a memória é uma construção permanente, antiga e nova, de percepções, emoções e cognições. Ou seja, aquilo que sabemos pode ser apenas uma reconstrução e aproximação do que realmente existe ou aconteceu. Imagine-se então o nível de reconstrução da memória que acontece ao longo de uma vida.

Quanto a certezas, poucas ficam: quanto mais sabemos menos as temos e quanto mais vivemos mais deturpamos o que supostamente sabemos. Parece fatalidade ou será apenas a constatação biológica de uma espécie incrivelmente capaz de se adaptar ao meio que ela própria cria para sobreviver em constante mutação?

Assim, quando alguém diz ter toda a certeza sobre as coisas mais incertas da vida, especialmente aquelas próprias da nossa condição humana, desconfio. Ou será a manifestação individual da sua ignorância, por tudo o que desconhece, ou o resultado de memórias inconscientemente manipuladas de modo a simplificar a complexidade do mundo. Mas ao certo não tenho a certeza disso. E tu?

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