Os humanistas da direita conservadora e os xenófobos da esquerda progressista

Dizermo-nos progressistas de nada vale se, no momento de enfrentar as fobias à diferença (xenofobias), discursamos e actuamos como nem um radical conservador foi capaz de fazer

Foto
Yannis Behrakis/ Reuters

Parece contraditório? A realidade mostra-nos que não.

Aristides de Sousa Mendes foi forçado a terminar precocemente a sua carreira diplomática. Era Cônsul português na cidade francesa de Bordéus quando assinou vistos para mais de 30000 refugiados que fugiam ao regime nazi. Salazar foi impiedoso com a sua heróica actuação e fê-lo morrer pobre e a comer na mesma cantina social onde comeram as pessoas que salvou do holocausto.

Aristides era monárquico, conservador, católico, mas tinha senso de humanidade e ajudou milhares de crentes de uma religião diferente da sua, maioritariamente judeus, a escapar de uma morte certa nos campos de concentração dos extremistas do III Reich alemão.

Hoje, pessoas ditas de esquerda progressista, munidas das maravilhas da comunicação global que são as redes sociais, enrodilham-se em comentários xenófobos para justificar que não devemos aceitar a chegada de quem foge aos extremistas "religiosos" do ISIS ou do ditador laico Assad.

No século passado, certamente argumentar-se-ia, como era moda, que os judeus eram uma praga diabólica, com uma cultura diferente da nossa, e que a sua perfídia se entranharia na nossa sociedade, desvirtuando-a. Hoje, acusam-se os sírios, mesmo os muitos que são cristãos, de virem fazer, imaginem... o mesmo!

Dizermo-nos progressistas de nada vale se, no momento de enfrentar as fobias à diferença (xenofobias), discursamos e actuamos como nem um radical conservador foi capaz de fazer. Ser herói não é gritar com muitos "caps locks" que vem aí a invasão terrorista, para nem nos deixarmos ouvir na nossa, acredito, inerentemente humana solidariedade.

Ser herói é, mesmo contra a corrente e assumindo riscos, lidando com as consequências, actuar com humanidade.

Sugerir correcção
Comentar