Análise ao Austrália-Nova Zelândia, parte III

Que virtudes deverão os Wallabies manter no próximo fim-de-semana, contra os All Blacks?

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Na terceira de seis análises de Francisco Branco e Luís Cassiano Neves ao Austrália-Nova Zelândia (27-19) do passado fim-de-semana, que ditou a conquista dos Wallabies do Rugby Championship e que serão publicadas até quinta-feira, Francisco Branco, coloca uma questão sobre a partida a Luís Cassiano Neves.

 

Francisco Branco: Os Wallabies foram uma equipa cheia de virtudes dentro do campo. Foram imperiais no jogo no chão, dominadores na mêlée. Quais foram as maiores virtudes que viste na equipa australiana? Quais achas que serão fundamentais manter para o próximo fim-de-semana.

 

Luís Cassiano Neves: Como disseste, e bem, a formação ordenada foi uma agradável surpresa, até porque a Austrália tinha conseguido apenas paridade com a formação ordenada da Argentina e da África do Sul na parte final dos respectivos jogos, já depois de feitas as substituições. Tem-se falado muito de Scott Sio, que já havia sido utilizado anteriormente com sucesso, porém sem o resultado estrondoso de Sidney. Sio vai tirar o lugar a Slipper porque forma muito melhor na mêlée, e a decisão terá demorado um pouco devido à sua juventude, mas também ao lugar de destaque de Slipper no grupo de liderança e ao seu volume de trabalho no campo – é um dos que carrega mais bola e mais placa. Porém, a grande diferença poderá ter estado na segunda-linha. Skelton é gigante mas é do lado dele que a mêlée mais vezes cede; as suas deficiências na formação ordenada estão bem documentadas na imprensa australiana. Rob Simmons, um general na touche, também não tem a presença física de Mumm ou Horwill atrás dos pilares. Aliás, a milagrosa recuperação de Horwill como jogador de eleição e homem duro do pack é, a meu ver, uma das mais espantosas acções desta equipa técnica.

 

O breakdown e a colisão, na defesa e ataque, voltaram a correr muito bem. A forma como os avançados carregam e evadem-se tem melhorado de jogo para jogo e facilita a reciclagem de bola. A Austrália acumula uma média de sete recuperações de bola no ruck, mas só contra os All Blacks venceu neste particular: nove contra sete. O que terá de melhorar significativamente é a redução de perdas de bola na sequência de erros, área em que a Austrália só é suplantada pelos Springboks.

 

Os Wallabies continuam também muito eficazes no aproveitamento das fases estáticas para conquista de terreno e finalização, apresentando um nível interessante de quebras de linha (em média mais de nove por jogo, próximo dos All Blacks e bem melhor que argentinos e sul-africanos) e um excelente nível de conversão em ensaios. Cheika e Larkham têm construído um modelo semelhante ao dos Waratahs, montado a partir do 10 (sobretudo com Phipps), com largura desde o início e dobras constantes, com penetradores, na segunda linha, dentro do 10 e na zona central. O dedo de Larkham é mais visível nos “strikes” a partir de fase estática, sobretudo touche, muito inspirados pelos que se faz em Camberra.

 

Mas o que a Austrália fez não chegará, claramente, para vencer em Eden Park. Terá de defender melhor e ser muito mais eficaz no jogo ao pé, mantendo a renovada atitude e intensidade, muito sublinhadas por adeptos e adversários. Esta é a principal vitória de Cheika até ao momento. 

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