TINA – Tsipras Is No Alternative

As lições aprendidas por Tsipras e a parte do Syriza que controla são as da troika: a democracia é um jogo pouco útil e tão rapidamente quanto possível evitável

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Alkis Konstantinidis/ Reuters

Mais um “resgate” à Grécia. Do dinheiro que entra, 54 mil milhões vão refinanciar dívida, 7 mil milhões vão para os pagamentos em atraso e 25 mil milhões para recapitalizar a banca privada. Mais um resgate aos credores e à banca.

O governo Syriza foi eleito para refutar a austeridade. Como se sabe, ganhou com um referendo com 61% contra um plano de resgate imposto pela troika. E, como se sabe também, acordou com a troika um novo empréstimo com medidas de austeridade medievais. Não há qualquer dúvida que a chantagem da União Europeia e do Banco Central Europeu sobre o governo e o povo grego foi gigantesca, ilegal e criminosa.

O corte de liquidez do BCE à banca grega vai contra todos os mandatos que a organização dirigida por Mario Draghi tem. Nenhuma novidade, portanto: as instituições europeias agem contra a lei que as rege e que as mesmas escreveram, tal como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial sempre fizeram. As instituições mais avançadas do capitalismo neoliberal mais extremista reforçam o seu arsenal ideológico socorrendo-se de todas as ferramentas à sua disposição, desde o saque à violência. A própria existência da troika e as políticas que impôs nos últimos anos sobre vários países é ilegal, violando o direito à auto-determinação dos povos. Mas a lei da força ganha sempre à lei.

Agora, perante a incerteza de conseguir aprovar uma moção de confiança no Parlamento Grego, Tsipras demitiu-se e convocou eleições antecipadas para 20 de Setembro. Com o "timing" escolhido, o líder do Syriza conseguiu evitar a realização do congresso extraordinário do seu partido, em que a sua liderança seria desafiada, já que Tsipras aprovou pessoalmente um acordo que foi rejeitado pela direcção do partido. As lições aprendidas por Tsipras e a parte do Syriza que controla são as da troika: a democracia é um jogo pouco útil e tão rapidamente quanto possível evitável.

Se Tsipras pretendesse contestar a austeridade não teria feito o contrário do que lhe indicaram todas as respostas democráticas e legítimas que obteve. Às próximas eleições Tsipras levará um programa de austeridade, um programa de direita, o programa do memorando que aprovou contra o seu partido e contra o seu país. Não é portanto de estranhar a saída de 30 deputados e de milhares de militantes para formar o Unidade Popular, que se propõe representar a vitória do OXI, do não do referendo grego à austeridade. Sabe-se ainda que outras figuras como Varoufakis ou Zoe Konstantopoulou não voltarão a acompanhar o Syriza, que já não é uma coligação de forças de esquerda, ambientalistas e movimentos sociais, mas quanto muito um PASOK recauchutado com uma cabeça mais atractiva que Papandreou.

A saída do euro

Restavam poucas alternativas à esquerda anti-austeridade dentro do Syriza e o cancelamento do congresso comprovou que Tsipras não pretende mais ser uma alternativa à austeridade, mas sim um seu executor. A alternativa na Grécia, como em toda a Europa austeritária, colocará em cima da mesa a saída do euro.

Uma previsível vitória de Tsipras nas eleições seria alcançada nas costas não do eleitorado que deu uma quase maioria absoluta às forças anti-austeridade, mas sim uma deslocação importante para o centro e direita. Os eleitores do PASOK e do To Potami (e importante parte da Nova Democracia) deverão ser o suficiente para reeleger Tsipras, agora não como líder das forças anti-austeridade, mas pró-memorando. Será grave o impacto que a transformação de Tsipras terá para o povo grego. Milhares voltarão a abster-se depois de terem votado nas últimas eleições e referendo, milhões deixarão de acreditar. Na Grécia e fora dela. Essa é a maior derrota do volte-face do Syriza.

As forças que o sustentaram até agora e que saíram do mesmo terão a árdua tarefa não apenas de disputar eleições mas, perante uma luta institucional quase derrotada à partida, construírem a partir de baixo uma alternativa que não responda em primeiro lugar aos poderosos, mas sim ao povo.

Não há alternativas dentro do quadro da austeridade e aceitando-a, tanto faz o partido auto-denominar-se comunista ou liberal, as políticas serão as mesmas. Alexis Tsipras reforça os sonhos da falecida Margaret Thatcher: TINA — There Is No Alternative (não há alternativas). Felizmente, não arrastará consigo uma parte importante das forças anti-austeridade que não poderão desistir de lutar pelas suas vidas contra o colosso da troika e que terão seguramente que defender que sim, há alternativa, mas não é o Tsipras.

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