Ainda a propósito dos CAR

Não poderão ser centros fechado na ideologia, no grupo humano e ao râguebi nacional, limitando-se à chamada de jogadores das selecções nacionais

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ENRIC VIVES-RUBIO

Porque os Centro de Alto Rendimento (CAR) tornaram-se um elemento preponderante do râguebi nacional devem voltar a merecer um olhar critico sobre os mesmos. Um olhar que, não chegando ao ponto de merecer um congresso nacional, deveria ser debatido pela comunidade rugbistica portuguesa de uma forma (parece-me a mim) mais atenta.

 

Sob pena de, cada vez mais, se tornarem numa célula isolada do nosso râguebi, que vai buscar os que são, pelos seus responsáveis, os melhores jogadores nacionais e que, através de contratos, muitas vezes limitam ou mesmo impedem que joguem pelos seus clubes.

 

Mas antes de entrar em mais dois ou três pontos, como nota prévia, não posso deixar de defender que os CAR são um instrumento absolutamente necessário para o desenvolvimento do râguebi nacional. Os CAR são uma conquista fruto de muitos anos de dedicação, entrega e absoluto amor pela modalidade, onde a palavra sacrifício era apenas considerada como um meio, absolutamente normal, para se alcançar o fim: jogar râguebi, jogar râguebi ao mais alto nível que fosse possível.

 

Os CAR, enquanto centros que proporcionam as melhores condições de treino aos nossos melhores atletas; os CAR enquanto possibilidade de, as espaços, colocarem os melhores a treinarem entre si; os CAR, despejado de sentimentos corporativistas e sentido autocritico; os CAR enquanto exponentes máximos dos princípios e ideais que sempre lideraram o râguebi e que, apesar dos apregoados ventos de mudança, deverão, sempre, continuar a guiar a modalidade. Estes CAR, sim, devem permanecer, fortalecerem-se e, se possível, replicarem-se por todo o território nacional.

 

Não poderão ser, no entanto, centros fechados. Fechados na ideologia, fechados no grupo humano, fechados ao râguebi nacional. Centros que limitam a chamada de jogadores às selecções nacionais.

 

Faz sentido, por exemplo, proibir os jogadores de sentirem e viverem a competição nacional, porque, no espaço de duas ou três semanas vão ter uma etapa no tão apregoado e enfatizado Circuito Mundial?

 

Faz sentido vermos jogadores fazerem campanhas impressionantes ao longo dos campeonatos nacionais e, por razões absolutamente incompreensíveis, não serem chamados à selecção nacional?

 

Faz sentido que a remuneração dos jogadores seja feita com base na ficha de presenças em vez da real produtividade dentro do campo?

 

Faz sentido uma rigidez de horários e carga tão intensiva de treinos que, em muitos casos, os jogadores optem por deixar de parte o essencial da vida, nomeadamente os estudos e vida laboral? Ainda por cima quando se sabe que o esforço de todos (dirigentes, treinadores e jogadores) para que essa complementaridade seja possível torna-nos a todos mais fortes, mais ágeis (física e intelectualmente)?

 

Faz sentido replicarmos, sem sentido crítico, o que outras potências fazem de uma forma, esquecendo-nos dos básicos que nos levaram à época que, desportivamente, marcou o râguebi nacional?

 

Não valerá a pena ver discutidas e debatidas, de uma forma desinteressada e aberta, estas questões?


Não merecerão os CAR um momento de reflexão, desinteressada e desmaterializada, por todos nós que gostamos do râguebi nacional?
 Repito, os CAR, sendo hoje um elemento essencial do nosso râguebi, não podem tornar-se um feudo isolado dos demais intervenientes do râguebi nacional. Antes devem fazer parte integrante e complementar do mesmo.

 

Com a certeza de que, no dia de hoje, estamos num patamar bem melhor do que aquele em que estávamos quando, seis ou sete anos antes, começámos a caminhada para o Mundial 2007.

 

Viva o râguebi!

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