Roma: janela para o mundo

Tiago Cruz foi um dos distinguidos na segunda edição do Prémio Estágios, promovido pela OASRS. A “clareza e objectividade da descrição do período de estágio” no Studio Fuskas, em Roma, agradou ao júri. Aqui fica um excerto da proposta

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Tiago Cruz

"A minha vontade de viver e trabalhar em Roma cresceu durante a minha fase de estudos Erasmus naquela cidade, no ano lectivo de 2008/2009. No decurso deste período tive a oportunidade de vivenciar "in loco" alguns dos momentos mais significativos da História da Arte europeia. As lições de arquitectura decorriam, simultaneamente, dentro e fora dos muros da universidade. Percorria, horas a fio, as ruas de Roma. Explorei praças, basílicas e museus. Via com o mesmo entusiasmo esculturas clássicas, cenográficas praças barrocas e ruínas perdidas no tempo. Após este período regressei a Portugal, onde conclui o meu Mestrado Integrado em Arquitectura, na FAUP, em finais de 2010.

A oportunidade de trabalhar em Roma surgiu após ter enviado o resumo dos meus trabalhos. A resposta foi positiva e recebi a proposta para iniciar o meu estágio no mês seguinte. O percurso para o meu local de trabalho era, em si mesmo, uma forte experiência arquitectónica. Colado ao vidro do autocarro, via desfilarem-se a meus olhos, o Coliseu, os Fóruns Imperiais e algumas das numerosas basílicas e igrejas de Roma. A localização do atelier de arquitectura num dos bairros mais antigos e vibrantes da cidade permitia participar activamente no pulsar da mesma. O Studio Fuksas está instalado num dos palácios da Piazza del Monte di Pietà. Uma imponente porta permite-nos aceder a um pátio interior polvilhado de plantas, vasos e flores. Uma escadaria conduz-nos à recepção/secretaria, no primeiro piso. Recordo o forte impacto que me causou a primeira vez que aqui entrei. O edifício preservava, o mais possível, os detalhes originais da sua construção. Em alguns pontos, apenas os caixilhos contemporâneos e o logo vermelho FUKSAS denunciavam intervenção.

O meu período de estágio decorreu no Laboratório de Maquetas. Aqui era estudada a forma e era o local onde se testavam muitas das soluções de projecto. Participei na elaboração de maquetas dos vários projectos em estudo no atelier. O trabalho era desenvolvido sob a coordenação e supervisão dos arquitectos responsáveis pelo laboratório. A complexidade dos processos e a utilização de maquinaria obrigava a um rigoroso espírito de disciplina e organização. Deveriam ser cumpridas escrupulosamente todas as regras definidas. O ambiente era multicultural e as nacionalidades dos meus colegas eram diversas.

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Maquetas de estudo Tiago Cruz

Nesta sala trabalhávamos em articulação com todos os sectores do atelier, permitindo-nos adquirir uma visão transversal do seu funcionamento. Num curto período de tempo foi-me permitido ter contacto com projectos de diferentes escalas e em fases distintas de evolução. Apesar de não ter desenvolvido as competências no âmbito do desenho CAD, pude potenciar as questões relacionadas com a pesquisa da forma e da materialidade dos edifícios.

Para além das competências adquiridas em termos profissionais, o período de estágio foi muito além disso. Moldou a minha forma de ver o mundo e a minha forma de estar. Potenciou a minha abertura a novas ideias e a novas visões relativamente ao mundo em redor. O facto de ter que trabalhar com equipas variadas e internacionais permitiu-me apreender diferentes perspectivas sobre um mesmo assunto e perceber a pertinência de determinadas opções. Levou-me a compreender a diferença e multiplicidade de visões e opiniões sobre um mesmo assunto.

Num mundo dominado pela relatividade, foi-me também possível reflectir na importância das nossas convicções e nas possibilidades de desenvolvimento de um percurso pessoal e original orientado por princípios e valores universais."

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