Boa Energia, a empresa que quer diminuir as contas lá de casa

Vendem kits fotovoltaicos DIY e prometem ajudar o consumidor a poupar nas contas enquanto preserva o ambiente. Em Maio lançam um agregador europeu de plataformas de “crowdfunding” de projectos de energias sustentáveis

Nuno Brito Jorge, Ricardo Iglesias e Miguel Aroso são os criadores da Boa Energia Regina Coelho
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Nuno Brito Jorge, Ricardo Iglesias e Miguel Aroso são os criadores da Boa Energia Regina Coelho
Regina Coelho
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Regina Coelho

À medida que as poupanças aumentavam, a ideia de encontrar uma solução alternativa às tradicionais aplicações bancárias crescia nas cabeças de Nuno Brito Jorge, Ricardo Iglesias e Miguel Aroso. E foi com esse cenário (e com a paixão comum pelo ambiente) que iniciaram a Boa Energia, uma empresa que promete cortar na conta de luz lá de casa — e fazê-lo com energia limpa.

Estávamos em 2012 e os três amigos decidiram investir os 20 mil euros que tinham juntado na construção de uma central fotovoltaica num turismo rural algarvio. A coisa correu tão bem que rapidamente se expandiu para mais duas centrais em Lisboa — e para 32 mil euros de investimento, conseguidos com a confiança de familiares e amigos. Por razões legais, o negócio acabou por mudar o paradigma e da mensagem “invista 1000 euros neste projecto e ganhe 5%” passaram para um “invista na sua casa, num equipamento que gera poupança”. Nuno Brito Jorge resume: “Deixámos de oferecer um produto de investimento, reduzimos a escala e aplicámos num kit.”

À venda desde Setembro de 2014, os kits fotovoltaicos da Boa Energia (que podem ser DIY e têm preços a partir dos 410 euros), permitem a qualquer pessoa construir o seu próprio sistema — desde que tenha um espaço com exposição solar sem sombreamentos, orientado a Sul (uma varanda, um terraço, um jardim ou um telhado servem) —, bastando ligar o painel a uma tomada da casa ou da empresa. As contas que interessam são fáceis, garante Nuno Brito Jorge: “Por cada painel instalado poupam-se 70 a 85 euros de electricidade por ano, o que significa que em cinco anos se recupera o investimento”, disse ao P3.

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A empresa vende também produtos ambientais, como esta mochila com painéis fotovoltaicos Regina Coelho

A equipa da Boa Energia — que entretanto cresceu e até já abriu um segundo escritório, no Porto — disponibiliza também um serviço de “consultoria”: “Com uma factura de electricidade conseguimos dizer qual o kit ideal, fazemos um estudo dos consumos da pessoa ou da empresa e vemos qual o potencial de redução de gastos.”

Para já, a empresa tem captado três tipos de clientes: os que procuram oportunidades de negócio e por isso investem em vários painéis, os mais tecnológicos que se deixam conquistar pelo lado DIY, e os “ecofriendly” que estão pouco preocupados com a rentabilidade.

Mas há mais. Com o crescimento do negócio, os criadores da Boa Energia alargaram a área de actuação e criaram a Our Power, através da qual representam equipamentos de marcas externas em Portugal. E assim, além dos kits e da consultoria, vendem online vários produtos amigos do ambiente, como mochilas com painéis fotovoltaicos (110 euros), equipamento de monitorização de consumo (16 euros), software de monitorização de uma casa inteira (67 euros), um chuveiro ecológico, de produção coreana, que garantem poupar mais de 50% de água (30 euros), entre outros.

A plataforma europeia

Lá no início do projecto, quando Nuno, Ricardo e Miguel perceberam os impeditivos legais existentes em Portugal, decidiram tentar criar uma “plataforma de ‘crowdfunding’ para investimento em energias renováveis” a nível europeu. Com um milhão e 600 mil euros de investimento conseguido com apoios europeus, o Citizenergy, que terá sede em Inglaterra, vai estar no ar ainda este mês e vai permitir o investimento directo em projectos de energias sustentáveis a partir de Maio.

“Um norueguês pode investir em energia solar em Portugal e um inglês ou grego podem investir em energia hídrica na Noruega ou na Suécia. Se for um promotor de projectos, posso, em vez de ir ao banco, ir ao Citizenergy e pedir às pessoas para investir. É um ‘crowdfunding’ com retorno financeiro, que em Portugal não é permitido”, explicou Nuno Brito Jorge, acrescentando que no início serão Portugal, Espanha, Alemanha e Inglaterra os países representados na plataforma.

Algumas das cooperativas europeias com quem contactaram, desafiaram os jovens portugueses a criar uma cooperativa em Portugal — e daí surgiu, há cerca de um ano, a Coopérnico, que junta pessoas que investem em projectos de energia renováveis. “Neste momento, a cooperativa autonomizou-se e em breve deverá entrar na comercialização de electricidade.”

Com vendas para cinco países europes e muitos contactos feitos com Brasil e Angola, a Boa Energia tem como objectivo para o presente ano consolidar a presença em Portugal (o escritório no Porto é um passo nesse sentido) e só depois planear voos mais altos.

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