Construímos demais e pensamos de menos

A nível global temos vindo a assistir a uma dramática mudança demográfica que, inevitavelmente, afeta o planeamento urbano e o desenvolvimento das cidades

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Félix M/FLICKR

Dados recentes indicam que entre 2000 e 2050, a proporção de pessoas a viver em áreas urbanas deverá aumentar até 70%. A construção desenfreada coloca problemas urbanos graves como a poluição ambiental, efeitos de ilhas de calor, aumento da permeabilização, etc.

Nos últimos anos têm surgido alguns programas e movimentos europeus, como o Cidades Sustentáveis, Green Cities e Slow Cities, para combater e evitar estes problemas e promover a saúde e qualidade de vida das populações urbanas, sendo que a implementação e valorização dos espaços verdes urbanos é um ponto comum e unânime em todos os programas europeus de políticas ambientais que visam o desenvolvimento sustentável das cidades.

Os espaços verdes são de facto um grande benefício para o nosso ambiente urbano. São capazes de filtrar os poluentes e as poeiras do ar, fornecem sombra e temperaturas mais amenas em áreas urbanas, reduzem a erosão do solo e permitem a retenção da água das chuvas, devido ao aumento da área de permeabilização das cidades.

Para além dos benefícios ambientais que proporcionam os espaços verdes urbanos, como ajudar a regular a qualidade do ar, água e do clima, são vários os estudos recentes que nos levam a concluir que estão também associados a benefícios físicos e psicológicos nas populações urbanas.

Segundo um estudo publicado no Journal of Environmental Science & Technology, os espaços verdes nas cidades podem levar a melhorias significativas e persistentes para a saúde mental das populações. A interação com os espaços verdes são essenciais para o bem-estar mental, aumento da auto-estima e concentração.

Os benefícios físicos são também evidentes. O contacto próximo com a natureza, serve de escape ao ambiente urbano caótico do dia-a-dia e a prática de desporto ao ar-livre é fundamental. As cidades não deveriam ser tratadas apenas como um simples somatório de tudo o que lá existe, mas sim como um sistema capaz de se relacionar entre si. Pela persistência dos mesmos erros urbanos e pela difícil compreensão da sua natureza só podemos concluir que a nossa perceção atual das cidades é confusa e incompleta. Construímos demais e pensamos de menos, sem planeamento eficaz e sem dar importância ao fundamental.

Para uma maior vivência da cidade, todas as suas partes constituintes deveriam articular-se da melhor forma possível e permitir sobretudo um desenvolvimento sustentável e uma maior qualidade de vida da população.

Uma cidade que apresente uma boa estrutura ecológica urbana e que aposte nos espaços verdes (com um índice médio de 40m2 de espaço verde por habitante) terá à partida uma maior qualidade de vida e será igualmente mais apelativa à fixação das pessoas.

Cidades como Nova Iorque com o seu famoso parque suspenso High Line, construído numa linha férrea abandonada, Londres com o arrojado Garden Bridge, novo espaço verde que atravessará o Tamisa em 2018, ou Copenhaga, destacada este ano como Capital Verde Europeia, são exemplos a seguir no panorama mundial.

Em Portugal, apesar de todos os avanços nesta área, o desafio é que cada cidade saiba articular o seu crescimento económico, urbano e populacional com novos modelos de desenvolvimento sustentável e de encarar as áreas verdes urbanas como um sistema fundamental na construção de uma cidade contemporânea.

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