Ser Velho de Mente Jovem é lidar mal com a Velhice

A juventude parece ser excessivamente valorizada como um valor absoluto, especialmente nas sociedades ocidentais, assentes na constante necessidade de inovação e busca pela novidade, e cada vez mais centradas no individualismo. São os próprios velhos que também contribuem para a sua própria marginalização quando pretendem descrever as suas virtudes e o modo de viver bem como sinónimos de juventude

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Tom/Flickr

Sempre achei estranha a expressão “interessa é ter o espírito jovem”, normalmente dita por quem já passou da meia-idade. Acho infeliz a expressão porque, mesmo percebendo o que inocentemente se quer dizer, acaba por contribuir para a autodestruição de quem a diz, e por ser o reflexo de uma sociedade que lida mal com a velhice. São os próprios velhos que assim se desvalorizam naquilo que seria a sua maior riqueza: a experiência de vida.

A juventude parece ser excessivamente valorizada como um valor absoluto, especialmente nas sociedades ocidentais, assentes na constante necessidade de inovação e busca pela novidade, e cada vez mais centradas no individualismo. São os próprios velhos que também contribuem para a sua própria marginalização quando pretendem descrever as suas virtudes e o modo de viver bem como sinónimos de juventude. A juventude, se a pudéssemos classificar como um adjectivo qualitativo, estaria longe de ser uma virtude imaculada. Para já, não tem de significar, por si só, vitalidade ou saber viver. Não faltam casos particulares de idosos mais ativos ou felizes que alguns jovens. E será que os idosos querem ser associados também aos comportamentos dos jovens, alguns menos dignos e dos quais são os primeiros críticos? É o perigo das generalizações, cai-se facilmente na incoerência.

O principal valor da velhice é a sabedoria e experiência de vida acumulada. Ou seja, é essa experiência que permite as condições para depois poder e saber apreciar muito melhor a vida – ao contrário do que diz o senso comum contemporâneo. É suposto na juventude experimentarem-se muitas coisas, boas e más, errando e cometendo asneiras. Mas é natural e faz parte do processo de aprendizagem. Quem diz “interessa é ser jovem por dentro” acaba por negar, indirectamente, esse processo natural de aprendizagem e passa uma mensagem de inferioridade face aos mais jovens. Quanto muito deveriam dizer que: importa manter uma mente aberta para aproveitar as coisas boas da vida, especialmente nesta sociedade de constantes mudanças e novidades, com base na experiência acumulada que facilita as melhores escolhas.

Assim, não é de estranhar que os jovens não valorizem os seus velhos e idosos, porque eles mesmo não se valorizam naquilo que é a sua riqueza distintiva. Por isso, caros velhos e idosos, não queiram ser jovens! Sejam maduros e experientes com orgulho, e no topo do vosso posto, obtido com mérito, partilhem connosco a vossa sabedoria sem tentarem ser como os mais novos. Não se admirem que outras culturas valorizem o papel dos mais velhos, pois lá os idosos querem ser aquilo que são de facto, e com orgulho. Confúcio que vos diga.

Por mim, preferia ter corpo jovem e mente velha, e não o contrário. Seria o melhor dos dois mundos, tendo em conta que associo - do modo mais preconceituoso que me é possível ser neste assunto - a beleza aos corpos jovens e a sabedoria às mentes velhas. Remato com esta generalização arriscada, propositadamente polémica, pois a capacidade de preconceito é intergeracional.

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