Selecção Primavera/Verão

Há pistas para esta esquizofrenia político-social na actual farda lusitana. É impossível os homens portugueses comentarem o novo equipamento da selecção sem trazerem ao de cima o seu lado mais feminino

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Eric Gaillard/Reuters

O que se vestirá neste Verão já está previsto há coisa de um ano. Tal como já há seis meses que apareceu a colecção de roupa para o Outono e Inverno que aí vêm. Havia de ser bonito se o mundo do futebol andasse a este ritmo. Os jogadores estariam no balneário a preparar o jogo com base em machetes de jornais de 2012. E o Paulo Bento estaria a apresentar a estratégia para o Euro 2016, que vai acontecer em Paris. Por exemplo: para combater o Platinismo que se vai sentir, as tendências podem passar por jogar com um PSP em cada poste.


Na verdade, futebol e moda são dois mundos que nunca andaram longe. Muitas conversas que tenho com amigos sobre um, acabam por descambar em conversas sobre o outro. Do Figo à Helen Svedin; do Ronaldo à Irina Shayk; do Totti à Ilary Blasi. Quando surge um novo equipamento da selecção, futebol e moda complementam-se sem costuras. E, para esta Copa, esse equipamento merece particular destaque. Portugal está um país desorientado, em várias frentes, e isso reflecte-se na roupa que levámos para jogar no Brasil.


Ora vejamos.


O Presidente da República despediu-se dos jogadores em Belém e ficou a sensação de que nem com um astrolábio ele saberia para onde olhar na altura de tirar uma “selfie”. A informação sobre a condição física de Cristiano Ronaldo variou entre não poder jogar, a poder jogar a cem por cento, a revelações de que, afinal, esse jogador não existe nem nunca existiu. A abstenção a bater “records”. As batalhas entre o Governo e o Tribunal Constitucional, com chumbos, matreirice e malabarismos fiscais, pondo em causa a separação de poderes. A indecisão sobre a próxima tranche de financiamento externo. As notícias sobre facadas, que nunca mais acabam. A Maddie, de novo. Os últimos seis anos, desde o papão dos mercados, à queda de Sócrates, às decisões “irrevogáveis” de Portas, ao Parlamento que se continua a achar o bastião da moral, em decisões como a co-adopção homoparental.


Há pistas para esta esquizofrenia político-social na actual farda lusitana. É impossível os homens portugueses comentarem o novo equipamento da selecção sem trazerem ao de cima o seu lado mais feminino. Porque a camisola não é vermelha. É “dégradé”. Depois disso, já faltou mais para eu me importar se o relvado é ao xadrez ou em “polka dots”. E, se por acaso nos calhasse utilizar o equipamento alternativo na final (azul e branco), corríamos o risco de ser Campeõs do Mundo envergando as cores da Monarquia, num ano em que o Presidente quase faleceu no Dia de Portugal (golpe de Estado do seu próprio sistema digestivo?) e em que o 5 de Outubro volta a não ser feriado.


Também eu fico profundamente desorientado.


Mas e que jogássemos de preto. A camisola da selecção vale mais ainda hoje, enquanto o país está de tanga. Ao menos, de dois em dois anos, unimo-nos em consenso, debaixo do hino, enrolados nas bandeiras, para viver uma das nossas formas de portugalidade.


Contra o Gana, teremos mais lesões do que pontos. Mas e então? Adornemo-nos!

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