Garraiada com anões na tradicional Vaca das Cordas

A Vaca das Cordas em Ponte de Lima é uma tradição imemorial, que este ano introduz uma novidade: a realização de uma garraiada protagonizada por anões

Cartaz da edição de 2014 da Vaca das Cordas
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Cartaz da edição de 2014 da Vaca das Cordas
Luís Rodrigues/Vaca das Cordas
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Luís Rodrigues/Vaca das Cordas

Realizada ininterruptamente há 70 anos, a edição deste ano da Vaca das Cordas, a ter lugar a 20 de Junho, apresenta uma novidade. O programa de festas vai incluir uma "garraiada" protagonizada por anões. Esta actividade está integrada no programa alargado das festas, e é organizada independentemente por Pedro Moita, que já havia levado espectáculos semelhantes à praça de toiros de Viana do Castelo.

A trupe de artistas performativos vem de Espanha, e a garraiada será feita a pequenos vitelos. Até ao momento não foi possível obter declarações dos organizadores, mas a garraiada é apresentada como um evento "de cariz humorístico". Entre a população da vila de Ponte de Lima há quem discorde e quem não veja problemas, mas ambos os grupos partilham o receio que haja quem não encare os anões como artistas comediantes mas antes como figuras de comédia por si.

Quem sofre são os humanos

Não é possível concretizar em que ano começou a tradição da Vaca das Cordas na vila minhota de Ponte de Lima. O documento mais antigo a referir-se à festa data de 1537 e refere-se àquela festividade já como uma tradição. Uma tradição que estava esquecida quando o avô de Manuel "Nibo" Varela, há cerca de 70 anos, a decidiu revitalizar. A organização da Vaca das Cordas tem estado com a família Varela desde então, na figura da Associação dos Amigos das Vacas das Cordas que conta com o apoio do município.

A festa em si, garante Nibo, não mudou muito desde a sua forma original, com requintes paganísticos. Um toiro de idade adulta é seleccionado pelo vigor, as pontas dos seus cornos são serrados e no dia da festividade é "solto" pelo centro histórico da vila. Um centro histórico que se enche de curiosos e corajosos prontos a desafiar o animal, que é conduzido por cordas presas aos cornos.

A meio do percurso o toiro é preso à igreja matriz da vila, "refrescado" com uma rega de vinho verde tinto, e depois de dar três voltas à igreja é conduzido para o areal, junto ao rio, onde é permitido aos mais aventureiros fazer-lhe a pega. Algures entre este percurso, a festa é feita com cada investida do toiro, causando uma reacção em cadeia na mole humana que o rodeia. Chega a ser difícil descortinar o que é mais perigoso: o toiro ou a multidão em debandada.

A contestação a esta tradição, apesar de não muito vocal, sempre existiu. Nibo Varela diz que nos 40 anos em que preside à organização nunca viu um protesto, apenas recebia cartas. Quanto a essas, assegura: "Já não namoro, por isso não leio cartas". Garante que esta indiferença às vozes dissonantes se deve sobretudo à confusão de quem se sente ofendido: "Isto é uma festa que não tem nada a ver com toiradas. Temos muito respeito pelo animal, e ele não é em nenhum momento ferido. Eu até costumo dizer a quem leva o toiro para o levarem ao colo se conseguirem, porque a festa só acontece graças a ele".

Assegura, aliás, que os feridos costumam "andar em duas patas" e que "há gente que acha que a Vaca das Cordas só tem sucesso se ela mandar alguém para o hospital. É o que as pessoas costumam dizer, mas eu prefiro os anos em que ninguém se magoa".

Texto editado por Luís Octávio Costa

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