Café e alface, uma boa parceria para as nossas células

Não é que eu possa pôr esta “parceria” entre o café e a alface em prática na minha rotina pois não tenho um quintal. Para os adeptos da agricultura doméstica, se quiserem aproveitar, o ambiente e as vossas células agradecem

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Um dia normal na minha rotina inclui um café de manhã e uma salada como acompanhamento do almoço. Até agora, nada a relacionar estes dois hábitos. Tal como é do senso comum, o café é um aliado na luta contra o sono, mas talvez não seja tão sabido que a alface é uma aliada na luta contra as insónias. Portanto, o café e a alface são antagonistas ao nível do sistema nervoso. Haverá mais alguma relação? Parece que sim, pois as conclusões de um estudo publicado recentemente na revista “Food Chemistry” apontam para o facto de a utilização de borras de café no solo para cultivo da alface aumentar a presença de antioxidantes na alface.

O estudo, desenvolvido na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, em colaboração com a Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Bragança e com a LIPOR – Serviço Intermunicipalizado de Gestão de Resíduos do Grande Porto, analisou o potencial benéfico das borras de café, frescas ou compostadas, no cultivo de alface. Através de várias técnicas para avaliar a presença de moléculas antioxidantes, comprovou-se que a atividade antioxidante da alface é mais intensa nas culturas com borras de café frescas, sendo ideal usar concentrações até aos 10% de volume do solo. Ao usar concentrações demasiado elevadas de borras de café frescas, há redução no crescimento das plantas. Os antioxidantes cujas concentrações foram aumentadas são da família dos carotenoides (benéficos para o sistema imunitário, visão e na prevenção no cancro do pulmão) e das clorofilas (com possíveis efeitos anti-inflamatórios, cicatrizantes e anti-cancerígenos). Este aumento também foi obtido com as borras compostadas, mas em menores quantidades, provavelmente devido à ausência de cafeína nas borras compostadas.

Segundo as investigadoras principais do estudo, Susana Casal, Paula Baptista e Elsa Ramalhosa, “este estudo vem comprovar os potenciais benefícios da adição de borra de café ao solo, comum na agricultura doméstica, mas ressalva que não deverá ser feita em demasia. A alface é apenas um exemplo das potencialidades desta técnica de reutilização de um resíduo doméstico com benefício posterior para a alimentação humana. Um ‘dois em um’ que beneficia o consumidor e protege o ambiente.”

Não é que eu possa pôr esta “parceria” entre o café e a alface em prática na minha rotina pois não tenho um quintal. Para os adeptos da agricultura doméstica, se quiserem aproveitar, o ambiente e as vossas células agradecem. E por último, para os adeptos da Ciência portuguesa, aqui fica mais um estudo interessante. Ao ler este texto, que sirva, de algum modo, de antioxidante contra o pessimismo.

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