Fechado para balanço

Servem os últimos meses do ano para fazer balanços. Mas aqui importa o país. Mas o que poderá ser do país plantado à beira-mar em 2014? Na certa passará pelo que se segue, mas isso são os meus búzios a falar

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Christian Hartmann/Reuters

Servem os últimos meses do ano para fazer balanços. Ou os últimos dias. Para alguns, bastam apenas os últimos minutos. Para mim, ajudam pouco os balanços, quase sempre tombo.

Mas aqui importa o país. Esse precisa bem mais do que o tempo que sobra depois destas palavras para fazer o balanço do que (não?) foi e ganhar balanço para o que poderá vir a ser.

Já sabemos que Portugal não foi um país para os novos, para os velhos, nem para os que nos entretantos se encontram. Ou se perdem. Foi um país de malas feitas, de sonhos desfeitos e de revoltas por fazer.

Mas o que poderá ser do país plantado à beira-mar em 2014? Na certa passará pelo que se segue, mas isso são os meus búzios a falar.

Aulas de metodologia da investigação no Governo. Os nossos governantes vão aprender a fazer bibliografias. Confronte-se a página 112 do Guião da Reforma do Estado para se perceber como tudo começou.

Mais greves e manifestações. É a vez dos animais de estimação saírem à rua indignados com as medidas de Assunção Cristas. 

Crianças empreendedoras são o orgulho de Pires de Lima. Para quê comprar casas da Barbie? As crianças devem ser capazes de as erguer. Vestir as Barbies com uma linha de roupa por si desenhada e registar patentes para novas receitas de Nestum pelo caminho.

Maria Luís Albuquerque reconhece Angela Merkel como mãe e quer que ela a leve de volta para casa. Os portugueses comovem-se com o reencontro e congratulam-se com a despedida.

Promoção do “jogging” matinal. Para se abandonar o estigma de primos gordos da família europeia. Para se fugir da Troika e não ser apanhado.

Mais escadas na Assembleia da República. As que existem não chegam para os que as querem ocupar.

Vales de viagem para Rui Machete. Funcionam como soro da verdade. Espera-se que tal se estenda a todos os viajados políticos nacionais nos próximos anos.

Descontos nas partidas dos aeroportos portugueses. Já era tempo do país fazer alguma coisa pelos seus jovens recém-licenciados.

Novos livros para Assunção Esteves. A presidente da Assembleia da República continua à procura de metáforas refinadas para chamar nomes aos portugueses.

Aperto é a palavra do ano segundo os dicionários da Porto Editora. Aperto serve para caracterizar não só a situação do país no seu todo, mas também a condição da maioria dos portugueses.

Enquanto nós procuramos fazer balanços, quem dita o destino de Portugal procura fazer balancés. Palavras que são muito próximas no dicionário, mas que fazem toda a diferença na altura de levar um país a dias de glória ou à ruína.

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