As arbitrariedades de respostas às indefensáveis perguntas

Qual é o verdadeiro significado das tuas respostas? São considerações encenadas? Deixa de ser a tua cénica vida em tantas respostas que dás

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Reuters

Foi assim, que eu aprendi: que nenhuma resposta é correctamente fiel à sua pergunta e que nenhuma pergunta tem a virilidade para tantas respostas. Exige-se de uma resposta o que a pergunta verdadeiramente acaçapa. Quando não há um retorno concreto a uma pergunta, é uma espécie de voluptuosidade interrogativa. Mas, por outro lado, se não fossem as respostas as auxiliares da vida, que perguntas fariam sentido? Eu próprio nunca respondo concretamente a todas as perguntas. Fujo delas. Escapo. Deixo que caiam no esquecimento. Mas nem sempre é possível.

“Quando um rouxinol canta, pergunta ao teu vizinho, o que mais lhe encanta!”, dizia o meu avô, com tão pouca prudência de um camponês que se apaixonou por uma criada nos campos do Alentejo, no início dos anos 40 e que escapou ao serviço militar na guerra no continente africano, porque mentiu que não sabia ler nem escrever (como tantos outros, que o fizeram, certamente!).

E é este o retrato: “O senhor sabe ler?”, “Não!”, “O senhor sabe escrever?”, “Não!”. Que estrutura verdadeira terá estas respostas? No caso do meu avô, que escapou ao envio da morte na guerra, teria o significado, de um resultado positivo (e que também permanecia nos braços de sua amada). Mas, as respostas, na sua consciência são encenadas. Respondeu da forma que mais lhe convinha. Entretanto, as suas respostas foram livres e não prejudicaram ninguém. Mas...

Parafraseando e voltando ao canto do rouxinol, à sua lengalenga, que eu enquanto jovem (mais jovem do que sou, entenda-se…), não compreendia o que agora talvez, consiga abarcar no seu significado; veja-se que os pássaros não cantam quando há pessoas a observá-los, e que probabilidade existe de estarem dois vizinhos ao pé de um rouxinol, perguntando um ao outro, “o que mais lhe encanta?”. Uma probabilidade mínima, ou uma probabilidade inepta, ou seja, nunca ninguém vai saber qual é a resposta. Certamente que seria — o canto do rouxinol —, porque era o que ambos estavam a ouvir no momento, naquele espaço, aquele som agradável, ou não. Ou terá outro significado? As respostas são lavradas, conforme o meio envolvente onde nos descobrimos, o nosso estado de espírito, o que poderá surgir (futuramente) perante as nossas respostas. Nunca nenhuma resposta vai ser politicamente correcta. E as perguntas?

Quando perguntam algo, sobre alguma coisa, a um presidente, a resposta imediatamente será para satisfazer quem o ouve, a plebe. O povo quer ouvir, o presidente diz; nem que sejam as maiores atrocidades. Poderá estar na fase terminal de uma doença, mas o médico diz que ainda há esperança, e por aí adiante.

São estes projectos de respostas que nos levam a pensar o quanto nos custará num futuro próximo as nossas perguntas. Nalguns casos, nem perguntamos para não ouvir o que não queremos, e seguimos indiferentes a qualquer resposta que poderíamos abiscoitar. E no final da nossa vida, tantas respostas não representam a nossa autobiografia.

Que crescimento psicológico nos traz esta inundação de respostas simuladas? Que entusiasmos trazem perguntas com respostas já fabricadas?

A verdade é apenas esta: não há perguntas nem respostas com vontades de serem perguntadas e respondidas. Ou há?

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