Dez andorinhas para o Primavera

A Punch volta a escolher as dez bandas obrigatórias no Optimus Primavera Sound. O cartaz é um “quem-é-quem” do melhor que a música tem para oferecer. Uma andorinha não faz a Primavera…mas dez garantem um excelente Primavera!

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1. The Breeders

Banda mítica e seminal dos anos 90 dominados pelo grunge, The Breeders trouxeram uma lufada de ar fresco à brisa depressiva e agreste que soprava de Seattle, com o seu pop-rock recheado de letras irónicas e dinâmicas rítmicas "a la" Pixies (onde a sua líder Kim Deal militava). "Last Splash", o álbum que os lançou globalmente, sopra 20 velinhas este ano, pretexto ideal para reunir novamente a banda que o gravou e darem um saltinho ao Porto para nos recordar o que de melhor os anos 90 deixaram para a história da música. Maravilhas como “Connonball” ou “No Aloha” são pretexto suficiente para merecerem a vossa atenção. Tocam às 21h00 do dia 30 no Palco Optimus. 

2. James Blake

O britânico de que toda a gente fala foi pioneiro na injecção de soul que aplicou ao dubstep, fórmula que rapidamente lhe granjeou merecida fama internacional. As suas apresentações ao vivo conseguem a rara proeza de permitirem uma desconcertante intimidade com o público, como se, por instantes, mesmo entre milhares, regressássemos ao conforto dos nossos "headphones" no escurinho do quarto. O recém editado "Overgrown" veio confirmar todo o seu talento como músico e compositor e a sua bem sucedida passagem por Coachella é o melhor cartão de visita para aquele que será um dos concertos do ano em Portugal. James Blake fecha o Palco Optimus no 1.º dia do festival.










3. Deerhunter










Intensos e polémicos, à imagem do seu vocalista Bradford Cox, os Deerhunter têm na sua sonoridade o que de melhor se tem feito no indie rock deste século. Intensidade e leveza parecem conceitos contraditórios, mas os americanos encarregam-se de contrariar qualquer certeza que possamos ter e os seus concertos reflectem toda essa rebeldia e liberdade de movimentos. Como dizia um famoso jogador da Invicta: “Prognósticos só no final”. Mas os dois últimos álbuns (o genial “Halcyon Digest” (2010) e o mais directo e mainstream “Monomania” (2013) ) fazem antever momentos memoráveis para o último concerto do Palco Super Bock na noite da abertura do Primavera. 

4. Blur

Os britânicos Blur são uma referência incontornável da britpop, daquela mais sólida, que resistiu à passagem de modas efémeras e sucessos imediatos. A razão do seu sucesso é fácil de aferir: pop-rock com os riffs inconfundíveis do genial Graham Coxon e as letras de Damon Albarn que todos entoam de cor, como se as soubessem desde sempre. Hinos como “Song 2”, “Boys and Girls”, “Universal” não faltarão na "setlist" do concerto que encerra o Palco Optimus no dia 31 de Maio. Afinem as vozes e preparem-se para um dos concertos da vossa vida.

5. Metz

Há quem os apelide de “Nirvana do Séc. XXI” mas basta ouvi-los para perceber que é puro hardcore que lhes corre nas veias. Power trio clássico (guitarra, baixo, bateria), os canadianos trazem consigo melodias plenas de energia e distorção sem concessões. A sua entrega em palco promete descargas de pura adrenalina para os corajosos que, pela meia noite de 31 de Maio, passem pelo Palco Pitchfork.

6. Memória de Peixe

A virtuosa dupla das Caldas da Raínha representa o que de melhor se tem feito em Portugal na área do rock mais alternativo. Com um som incrivelmente sólido, que conseguem pelo domínio da técnica dos "loops", o álbum homónimo que lançaram o ano passado pela Lovers & Lollypops é uma demonstração clara de todas as suas capacidades musicais e criativas. Um concerto imperdível, que será garantidamente uma das boas surpresas deste Primavera, a abrir o Palco Optimus às 18h00 no 2º dia.

7. Four Tet

A fechar o Palco Super Bock no 2.º dia do festival encontramos um dos grandes protagonistas da música electrónica actual. DJ e produtor incansável, Kieran Hebden aka Four Tet é um daqueles nomes no "speed dial" de qualquer músico que goste de ver a sua música remisturada com um bom gosto inexcedível. Justin Timberlake ou Thom Yorke estão entre os clientes habituais. As "mixtapes" que lança com bastante regularidade são imperdíveis e os seus álbuns indispensáveis em qualquer discoteca que se preze. Quando vos pedirem que recordem um grande fim de noite, o seu set será provavelmente a banda sonora que vos ocorrerá. 

8. The Glockenwise

As honras de abertura do palco principal (Palco Super Bock) no derradeiro dia do festival cabem aos Glockenwise. Banda destacada da nova vaga do (bom) rock que actualmente se faz em Portugal, juntamente com nomes como os Alto! ou os Black Bombaim, os barcelenses trazem consigo o fresquinho 2.º álbum "Leeches", onde o seu garage rock surge com uma frescura renovada e o piano a assomar sorrateiro em algumas faixas. O espírito, esse, mantém-se festivo, uma celebração da vida e da juventude que envergam orgulhosamente em cada letra e acorde. Ao público fiel que os acompanha país fora, juntar-se-ão numerosos convertidos à verdade que só um bom riff pode oferecer.  

9. My Bloody Valentine

Por incrível que possa parecer, foi Sofia Coppolla quem ajudou a reerguer das cinzas os My Bloody Valentine (MBV), quando incluíu a sua “Sometimes” na banda sonora de “Lost in Translation” e pediu a colaboração de Kevin Shields (vocalista e guitarrista dos MBV), que acedeu com quatro temas originais de grande qualidade. "Loveless" (1991) é um álbum incrível, em que o conceito de shoegaze foi elevado a um novo patamar e que, só por si, vale a presença de qualquer melómano neste concerto. A mescla entre paredes de distorção em alta voltagem, teclas com tons dream pop e as vozes doces de Shields e Bilinda Butcher, cria uma beleza difícil de definir, que se estranha mas inevitavelmente se entranha e nos obriga a regressar a cada tema, tentando perceber a razão desse fascínio. (Os MBV encerram o Palco Optimus, após a actuação dos Explosions in the Sky.) 

10. Fucked Up

Os canadianos Fucked Up são donos de uma sonoridade invulgar, em que qualquer tentativa de catalogação esbarra necessariamente no prefixo “pós”. Chamam-lhes pós-punk porque, apesar da inegável presença dessa estética na sua música e em algumas letras, as composições são bem mais longas e intrincadas do que os tradicionais três ou quatro acordes de uns Ramones, por exemplo. Apelidam-nos de pós-hardcore, pela voz mais berrada do vocalista Father Damian e pelos riffs plenos de poder de "10,000 Marbles", mas nem só de força bruta vive esta banda, com a voz delicada de Mustard Gas a aplacar um pouco a agressividade masculina. Ao vivo são de uma energia inesgotável e contagiante e o divertimento é garantido. Para confirmarem se a receita funciona, passem pelo Palco Pitchfork no último dia do festival, às 3h.

Artigo corrigido às 12h19 de 30 de Maio.

"Loveless" não foi a estreia discográfica dos My Bloody Valentine, como estava anteriormente escrito, mas sim "Isn't Anything" (1988)

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