Elas são gordas e reivindicam um lugar no mundo da moda

Uma nova tendência está a crescer na internet: blogs de moda que querem provar que o estilo não se limita ao tamanho S e que a beleza não sinónimo de magreza

Stephanie Zwicky DR
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Bette Dito já desfilou para Jean Paul Gaultier. Lena Dunham exibe o corpo, semanalmente e sem pudor, na série televisiva Girls. Stephanie Zwicky é modelo de várias campanhas. E Adele já foi capa da revista Vogue americana. Mas a indústria da moda continua a vender, maioritariamente, o ideal da magreza feminina.

 

Sentido-se excluídas pela Imprensa de moda, um grupo crescente de mulheres tem, nos últimos anos, encontrado na internet um meio de expressão, aceitação e auto-estima.

 

São bloggers com peso a mais, que adoram moda e acreditam que ela não se deve limitar ao tamanho S. Muitas têm grandes legiões de seguidores, e assumem-se como alternativa às revistas de moda. Fotografam os seus looks diários, partilham dicas de moda, e até desabafos. Tudo é aceite, menos o preconceito.

 

Ragini Nag Rao tem 27 anos, é de Calcutá e autora do blog A Curious Fancy. Conta com mais de mil seguidores no twitter, já deu várias entrevistas à imprensa internacional e apareceu no top 9 de blogues Plus Size da revista Teen Vogue. 

 

Ao P3 confidenciou que criar o blog foi o culminar de um longo processo de aceitação do próprio corpo, que começou através da comundade online Fatshionista.

 

“Foi  primeiro sítio onde eu vi pessoas do meu tamanho a vestirem-se bem”, confessa, “eu achava que ser gorda significava que não me podia vestir bem, e ao acompanhar o Fatshionista a minha opinião começou a mudar” 

 

 

"Imposição do corpo legítimo"

Paula Guerra, socióloga e investigadora da Universidade do Porto, acredita que “a moda ainda tem o privilégio de imposição do corpo legítimo”, prejudicando a auto-aceitação e auto-estima de quem não se inclui nestes padrões.  

 

“No fundo, estas mulheres tentam arranjar um lugar para sim numa sociedade que as rejeitou”, afirma, acrescentado que o impacto destes blogues “só pode ser positivo, no sentido em que vem reforçar uma identidade que esteve dilacerada muito tempo por dietas e outras tentativas de mudanças”. 

 

A própria Ragini lembra uma adolescência marcada pela Bulimia e a Anorexia, até chegar à faculdade, e decidir “consertar a mente e não o corpo”. Uma das primeiras coisas que fez foi rejeitar “todos os media tradicionais, incluindo revistas de moda”. Depois deixou as dietas, tratou da culpa que sentia por cada grama que ganhava, e começou a vestir-se como sempre quis. 

 

Paula Guerra lembra que “o ideal de beleza feminino vai acompanhando o desenvolvimento da sociedade”, ainda que seja “uma evolução lenta e paulatina, que custa muito”. 

 

“Chamamos à nossa sociedade uma modernidade tardia ou capitalismo avançado, em que se procura vender muito, sim, mas de forma diferenciada”, começa por explicar. Por essa razão, diz haver uma “crescente aposta na diferença”, por parte da indústria da moda.

 

 

E acredita que é neste contexto que surgem estes blogues: “Ainda que não perpetue directamente estes ideais de beleza, é ela que vai criando janelas de oportunidade e inspirando estas pessoas”.

 

Quer isso dizer  estes blogs são iguais às revistas de moda? Não, eles apenas vêm “aproveitar um espaço que a moda deixou em aberto”. E sendo um fenómeno recente “é visto como uma oportunidade para certas pessoas”. 

 

Ragini admite que quer ser escritora de moda. No entanto tem dúvidas quanto ao papel do blog nesse projecto de futuro. Até porque não o vê como algo profissional, mas sim como uma forma de ajudar outras pessoas que lutam com problemas semelhantes aos seus.

 

“Com o meu blog espero mostrar às mulheres que há mais do que uma forma de vestir um corpo gordinho” confessa. “Se eu ajudar, nem que seja só uma pessoa, a sentir-se bem consigo mesmo e com o seu corpo, estou feliz”. 

 

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