Droga: “geração rasca” ou, pelo contrário, “geração smart”

Representando cerca de 200 mil mortes/ano, a droga é dos negócios mais rentáveis do mundo. Cerca de 5% da população mundial consome substâncias ilícitas

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Pilar Olivares/Reuters

Enquanto jovem e profissional na área dos consumos, apercebo-me que o fenómeno da droga é, para além de multifacetado, pouco consensual. Associado a esta problemática advém um conjunto alargado de mundos visíveis e escondidos que, por isso mesmo, não devem ser ignorados.

Infelizmente, as teorias divergem invariavelmente das práticas e o que agrada a uns, perturba outros. No final, as dúvidas são mais que muitas. Como o consumo ou experimentação também são fruto de uma atitude supostamente informada, faz sentido priorizar a compreensão de certas realidades e desconstruir certos conceitos.

Considero importante perceber o que se passa para, só depois, melhorar seja o que for. O fenómeno das novas substâncias psicoativas tem sido, depois da crise e fragilidades políticas, a polémica dos últimos anos. Parece até que a problemática da droga renasceu devido à aparição de "smartshops, em 2007"! De facto, tiveram um impacto notável na sociedade, mas pouco se refletiu sobre o real segredo do seu sucesso.

Representando cerca de 200 mil mortes/ano, a droga é dos negócios mais rentáveis do mundo. Cerca de 5% da população mundial consome substâncias ilícitas. Ainda outros 5% de jovens europeus, com idades entre os 15 e os 24 anos, já consumiu, pelo menos, uma destas novas drogas. Bom, então se olharmos para o consumo de substâncias psicoativas no geral…

Quem nunca tomou um medicamento, bebeu um copo ou experimentou um cigarro repara que, saudavelmente, é uma pessoa “anormal”. Ora, se admitirmos que o álcool é considerado a droga mais perigosa e primeira responsável pelos casos de morte juvenil, mas também a mais consumida e socialmente aceite, percebemos que o mercado legal de substâncias afinal nunca foi assim tão inocente. Talvez a grande ameaça resida na forma como as pessoas e as próprias políticas ainda lidam com esta situação.

Se pensarmos a fundo nestes factos, inevitavelmente começamos a questionar o real objetivo da legislação, fiscalização, direitos e até do mercado legal e ilegal de estupefacientes. Criticar e refletir sobre estes aspetos, de forma ativa e construtiva, parece-me uma atitude sensata. Afinal, nem tudo o que parece é. Disponíveis em mais de 40 pontos de venda e em cerca de 693 lojas virtuais, estas novas drogas são consumidas tendencialmente por “jovens” com menos de 18 anos. Isto é preocupante. Para além da sua venda ser, à partida, proibida a menores de 18, o conceito de “jovem” encontra-se igualmente em mutação.

Efetivamente, há uma linha fortíssima que separa os maiores dos menores de idade. No entanto, hoje em dia, jovem é aquele que, aos 13 anos, já apanhou uma “bebedeira”, tem um "smartphone" e atravessa a globalização, consumindo e a ser consumido tecnologicamente. De repente, tudo aquilo que antigamente era considerado “desvio” ou “mais difícil”, caracteriza agora os estilos de vida mais comuns e legitima alguns fenómenos sociais emergentes.

Pergunto-me frequentemente se somos mesmo uma “geração rasca” ou, pelo contrário, uma “geração smart”, onde tudo é mais fácil, informal e acessível. Questiono-me ainda se, após tanto mediatismo e publicidade direta e indireta, um diploma que ilegaliza 160 novas drogas que surgem sem parar, reconhecendo-as como uma ameaça para a saúde pública, será suficiente.

Se a crise económica influencia o mercado de estupefacientes, através do aumento da procura e venda de drogas ilícitas, será o proibicionismo a chave para um futuro melhor? Por último, será que estamos ideologicamente preparados e sensibilizados para saber lidar com estes novos desafios? Certo é que, para sermos mais saudáveis, precisamos de novas consciências e abordagens ao fenómeno da droga.

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