Levar a felicidade a sério

A sociedade deve estar organizada de forma a fomentar a felicidade dos seus cidadãos

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LawPrieR/Flickr

Em Abril do ano passado foi finalmente publicado, pelas Nações Unidas, o primeiro Relatório Mundial sobre a Felicidade. Este relatório representa um passo histórico para toda a humanidade. Trata-se de um sinal extremamente positivo que demonstra que o ser humano está de facto a evoluir, e que aos poucos começa a existir a preocupação em dar prioridade ao que é realmente importante: a felicidade e o bem-estar de cada ser humano.

A primeira lição que o relatório oferece prende-se com o facto de, para além do mero crescimento económico de uma nação, existirem inúmeros outros fatores essencias para o bem-estar das pessoas. Ora, numa época em que atravessamos momentos de instabilidade e austeridade económica, torna-se ainda mais fundamental que esta noção esteja bem presente. A visão clássica dos economistas rumo a um PIB eternamente crescente está construída sobre uma visão da humanidade totalmente deturpada, e isto porque os bens materiais isolados nunca preencherão as necessidades humanas mais profundas, incluindo a alimentação das relações humanas, a realização criativa e, bem assim, o aproveitamento saudável e equilibrado do tempo.

Compreendemos cada vez mais a necessidade de criar um novo modelo para a humanidade. Um modelo em que aceitemos que o ser humano constitui uma mistura complexa de emoções e pensamento racional, do inconsciente e consciente, do pensamento “rápido” e pensamento “lento”. Dito isto, existem fortes razões para acreditar que o ser humano precisa de estabelecer um novo paradigma económico que reconheça uma forte paridade entre os três pilares do desenvolvimento sustentável: o bem-estar social, económico e ambiental.

O motivo pelo qual devemos levar a felicidade a sério, baseia-se na convicção, crescentemente apoiada por evidência científica, que medir a felicidade disponibilizará novas ferramentas para construir um mundo melhor, incluindo a criação de soluções mais eficazes contra a doença, a pobreza e a guerra. Neste sentido, a Assembleia Geral das Nações Unidas convidou os seus estados-membros a “elaborar medidas adicionais que melhor captem a importância da busca pela felicidade e bem-estar, desenvolvidos com o propósito de guiar as suas políticas públicas”. Tal não significa que os estados devam abandonar os objetivos já existentes. Significa antes que a importância relativa desses diferentes objetivos deve ser reconsiderada. De facto, o foco no bem-estar já está a servir para ajustar políticas de desenvolvimento em vários países, incluindo o Reino Unido, a França e a Suécia.

E nós portugueses? Será que não devemos levar a felicidade um pouco mais a sério? Porque não procuramos integrar a medição do bem-estar no nosso sistema político? Porque não estabelecemos o bem-estar individual como o verdadeiro busílis de todas as nossas decisões?

Seria, sem dúvida, uma forma extremamente positiva e inteligente de continuarmos a zelar pelo que é realmente importante. De continuarmos a lutar pelos valores da humanidade, fraternidade e solidariedade. Características que nos distinguem como nação. Características das quais nos devemos orgulhar e continuar a honrar.

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