Luís Pedreira tornou a Feira do Fumeiro num sucesso no YouTube

“Fumeiro Style” é o novo êxito viral da Feira de Fumeiro de Montalegre. Culpado? Luís Pedreira, 28 anos, “barrosão de gema”, a fazer carreira no interior do país

Não está cientificamente provado, mas deve ser o comentário mais vezes repetido no final de cada vídeo musical-promocional da Feira do Fumeiro de Montalegre. “Mas quem é que se lembrou disto?” Pois bem, eis a resposta: Luís Pedreira, a irmã, Mariana Pedreira, e companhia ilimitada.

O ano passado, trocaram a letra do grande êxito “Ai Se Eu Te Pego” e puseram meio mundo a cantar sobre alheiras, chouriças e salpicões (já agora, quem diria que um presunto barrosão dava uma viola tão credível?). Este ano, repetiram a fórmula e respectiva façanha — “Gangnam Style” virou “Fumeiro Style” e é o que se vê (em cima). Crianças a chocalhar fumeiros em frente ao Castelo de Montalegre, animais endiabrados, arriscadas manobras de “break dance”, o Ti Carreira, qual PSY, a fazer frente a uma chuva de palha e, claro, o salpicão... cão... cão... cão. Em seis dias, já atingiu mais de 30 mil visualizações — e não deve parar por aqui (o anterior está quase nas 42 mil).

O segredo do sucesso? “Ser tudo genuíno”, conta Luís, o realizador de 28 anos, que, desenganem-se, não é de todo novato nestas matérias meias virais. Quem é que não se lembra da Haka Barrosã? Ele estava lá. “Já éramos nós”, recorda. “Nós”, os Chouribebes de Barroso, grupo humorístico que formou com os amigos já em 2007. “Não tínhamos nada para fazer, decidimos apostar nas brincadeiras. E funcionou... se calhar não era uma ideia assim tão estúpida.” E, agora, um pequeno aparte: o rapaz que imortalizou o dito “Escacar Pedra” também integra estas produções. “É de Montalegre, meu amigo pessoal”, conta Luís. “A avó dele também aparece no novo vídeo a dançar.”

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Vídeo contou com o apoio financeiro e logístico da autarquia Joana Abreu

O (estranho?) caso dos animais

Tudo começou em 2011, quando o director do Ecomuseu de Barroso lançou a ideia de fazer um vídeo alternativo de promoção à Feira do Fumeiro. O institucional continuaria a passar na televisão, faltava um para as redes sociais. Dito e feito — é o bom de terras onde toda a gente se conhece. Luís e a irmã fizeram a letra, Mariana convocou a “malta” do Centro de Estudos de Barroso – Teatro e Tradições, onde trabalha como encenadora, trocaram instrumentos por fumeiros, pensaram numa coreografia, foram gravar para Rádio Montalegre com o “imprescindível” músico José Manuel Alves e em meia hora estava quase tudo pronto. “Foi um boom”, conta Luís. Este ano, foram os próprios a propor à Câmara Municipal de Montalegre a ideia — a mesma fórmula, quase as mesmas crianças (o jovem PSY já vem de trás), o mesmo “entusiasmo”, o mesmo “toque barrosão”. Os fumeiros, isto é.

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Ti Carreira, o sénior mais famoso do Barroso porque aparece em tudo o que é vídeo Joana Abreu

“Tentei fazer um paralelismo com o original”, descreve Luís, que para além de realizador também empresta a voz ao hino deste ano. Planos rápidos, ritmo, naturalidade. Um dia e meio de gravação, três dias a editar. Grande parte das cenas já estavam idealizadas, outras foram acontecendo. Foi o (estranho?) caso dos animais. “Eles estão bem de saúde e recomendam-se. Portaram-se bem quando tiveram de se portar... depois também dançaram”, graceja o realizador. Afinal, aquele burro só está mesmo a “espoldrinhar-se” que, explica-nos Luís, mais não é do que coçar-se. Tal como o porco, no carvalho.

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Luís Pedreira em acção Joana Abreu

Regressar ao interior

Os dois vídeos contaram com o apoio financeiro e logístico da Câmara de Montalegre, o que, para Luís Pedreira, prova a abertura e o potencial do interior do país. “Nos meios urbanos, a reinvenção já está a acabar e no meio rural ainda há muito por explorar”.

O seu percurso prova-o. Licenciou-se em Engenharia de Minas no Porto, mas bastaram-lhe três meses na área para perceber que “a veia artística batia mais forte”. Foi para Lisboa trabalhar numa produtora, onde começou a cultivar “o bichinho” do vídeo, “não só a fazer de palhaço, mas também atrás das câmaras”. E, claro, o impensável aconteceu — “Conheci a mulher da minha vida que, por acaso, era espanhola e obrigou-me a emigrar.” Estabeleceu-se há cerca de um ano, em Leão, Espanha, onde ainda hoje vive, e decidiu abrir uma empresa de entretenimento e produção de audiovisuais, a Sótão de Histórias. “Onde é que a vou sediar? Não é em Leão, não é em Lisboa, é em Montalegre.” Ou não fosse, claro, “barrosão de gema”.



“Há muita matéria para ser explorada”, diz. Prova disso é que a vila já foi retratada como uma “Aldeia Global” na publicidade, por muito que a “imagem de atrasados” não corresponda à realidade. E não só — Luís está agora a contar os dias para a estreia do seu documentário “Sapos e Bruxas” no Fantasporto 2013. “Fala sobre a sexta-feira 13, uma tradição que tem um potencial enorme. [Nesse dia], o Padre Fontes esconjura os males da bruxaria, e uma vila de duas mil pessoas recebe 30 ou 40 mil. O mínimo é fazer um documentário.” Foi tudo feito com gente da terra, com o espírito da terra. “Eu pedia: ‘Faz-me aí o papel do senhor que vai morrer.’ Respondiam-me: ‘Ok, deixa-me só ir ali matar o porco.’”

O filme também conta com o suporte da autarquia. “Tudo o que faço tem o apoio financeiro da Câmara — e por que razão não iriam apoiar? Sabem que sou um jovem que gosta da terra, que trabalho para a divulgar. Tenho um suporte muito forte, mas não acredito que apostassem às cegas. Fazem-no porque sabem quem sou.”

Defende e promove, por isso, o regresso aos campos. “Tem cada vez mais força e é mais fácil para quem tem ligação à terra.” Não se arrepende. Ok, não há cinema em Montalegre, mas “há uma cozinha recheada de fumeiros com cantares tradicionais”, algo que Luís muito valoriza ou não tivesse projectos musicais desde os 12 anos. Para o ano, quem sabe, haverá um novo “hit” sobre a taina barrosã. Esperemos.

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