Uma Incubadora para exportar os artistas portugueses (para o Brasil e não só)

A Incubadora de Artistas é uma galeria online que quer pôr os criativos portugueses no mundo e, em especial, no Brasil

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Letícia e Ariane e duas obras de Maia Horta da série Descaradas DR

Quando a museóloga e conservadora Letícia de Melo chegou a Portugal ficou “chocada” com a quantidade de artistas, seus colegas na Faculdade de Belas Artes de Lisboa (FBAUL), que tinham “um trabalho interessante”, mas “não se sentiam preparados para o apresentar”. Foi há quase três anos — “precisamos de fazer alguma coisa”, disse então — que começaram a ser rabiscados os primeiros esboços da Incubadora de Artistas.

Agora, já há páginas no Facebook (desde Abril) e noutras redes sociais e uma galeria online, em funcionamento há pouco mais de um mês, com cem trabalhos de 27 artistas para venda. É uma “plataforma democrática” de divulgação, descreve Ariane Feijó, sócia de Letícia na empresa As Pequenas Grandes Ideias. Na Incubadora são dadas aos autores as ferramentas necessárias para “desmistificar o mercado”, sem necessidade de curadores. A Internet é o megafone e, assim, os criadores ganham uma nova autonomia. O objectivo final passa por projectar os artistas portugueses lá fora, nomeadamente no Brasil, de onde as fundadoras são naturais.

É que, com 32 anos, Letícia e Ariane não são novatas nisto. No CV têm a coordenação da Bienal de Mercosul de 2009, mantendo, desde aí, uma “conexão forte” com o mercado brasileiro. “Com tanta gente a querer ir para lá neste momento, podemos fazer essa ponte”, assegura Ariane. E com outros lugares do mundo: “Queremos facilitar a visibilidade destes artistas noutros países. Talvez se fossem sozinhos não seria tão rápido.”

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Arte, apesar da crise

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Ariane e Letícia começaram a rabiscar a Incubadora de Artistas há três anos DR

A ideia inicial — uma exposição na FBAUL — deu origem a um projecto um pouco mais megalómano. Culpa das pressões do mercado. Em Agosto, acabaram por fazer um “Call for Artists” e, se o primeiro propósito era apostar em jovens artistas portugueses em início de carreira, a realidade veio ditar outro caminho.

“O projecto interessou a artistas já há algum tempo no mercado e recebemos e-mails de pessoas de outras partes do mundo”, conta Ariane. Foi o caso da mexicana Violeta Rivera, por exemplo. “O que era para ser só para Portugal foi-se expandindo.”

A Incubadora está sempre aberta a novas obras. Cabe a Letícia seleccionar os trabalhos, que, diga-se, não precisam de se cingir à pintura: fotografia, ilustração e escultura são áreas que já estão também representadas. As obras expostas nunca são “muito caras”; aliás, alguns artistas disponibilizaram “prints”, necessariamente mais baratos, que já se podem espreitar no P3. Quando há venda, a comissão da galeria ronda os 20%. E não se paga nada para ter lá os trabalhos.

Não há um espaço físico, mas já estão a ser preparadas nos bastidores algumas exposições. Tudo para “difundir o máximo possível”, combatendo a fragmentação do mercado. Entre Fevereiro e Março do próximo ano realiza-se a primeira exibição em Portugal. Segue-se, depois, o Brasil, para onde viajaram, aliás, as primeiras obras vendidas. Sim, porque “apesar da recessão económica, há pessoas que consomem e querem arte”, diz Ariane. Mas esse será o segundo passo. “Neste primeiríssimo momento estamos a tentar fazer uma plataforma local. Não adianta ser-se famoso lá fora se não se tem visibilidade aqui dentro.”

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