A reabilitação do sistema político como saída de emergência

Ninguém foge à crise. Podemos acreditar que haja um conjunto de pessoas que não a sintam no bolso, mas não há ninguém que lhe consiga fugir

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(GaleriaArteUrbana/Flickr)

A crise económica que assola o país é o tema dos últimos anos. Não se fala noutra coisa. Todos os telejornais, dia após dia. É a "troika" e os juros da dívida pública no mercado secundário, são as receitas extraordinárias e as metas da execução orçamental. É o léxico da alta roda financeira a invadir o espaço familiar. São três canais televisivos com debates diários entre entendidos que apresentam soluções que com a maior naturalidade oscilam entre o milagroso e o desastroso. Pergunta o leitor: então e a matéria não é importante? Respondo: é. É muito importante. Mas não é o que de mais importante existe. Não é, sequer, o epicentro da questão.

Há algo de profundamente perturbador para lá do aspecto estritamente económico e financeiro da crise e talvez seja por receio de enfrentar esse elemento oculto que nos centramos apenas na vertente económica. Aquilo a que chamamos crise não é mais do que a manifestação da encruzilhada social e política a que chegamos.

É o corolário da inadaptação do sistema político à evolução do contexto social. É uma manifestação da desadequação dos padrões éticos dominantes ao sistema financeiro. É, na verdade, o resultado da falta de vontade evolutiva que a Europa vem demonstrando e que ameaça concretizar-se no abandono daquele que no passado foi o seu sonho solidário. São dificuldades adaptativas em várias frentes, em diversas matérias.

Crise política e social

Infelizmente, esta crise não tem natureza exclusivamente económica. É uma crise política e social. O aspecto económico é apenas uma manifestação do problema. A teorização estritamente económica dos fundamentos e consequências que lhe subjazem não fará mais do que eternizá-la. O trilho que nos levará a ultrapassar a crise radica noutra ciência, profundamente inexacta.

O desvanecimento da crise que vivemos não se poderá fundar senão na conceptualização de uma matriz organizacional, ética e social que se adeque ao conjunto de alterações de padrões de comportamento dos agentes sociais que a crise veio pôr a nu. A visão integrada deste conjunto de problemas no espaço supranacional é a única solução.

Só a política pode resolver o problema que a política criou. E só a intervenção informada e atenta dos agentes sociais pode reformar a política, sem o que esta não se reabilitará e não cumprirá este desígnio.

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