“Zuzu e Margarida”: depois do voo, o regresso à normalidade

Da janela da Maria já não se avistam nem Zuzu nem Margarida, o casal de falcões que escolheu a floreira da família Cotter para fazer o ninho. A vida familiar voltou ao normal. Mas há um documentário na calha

O Falcão Peneireiro alimenta-se, sobretudo, de pequenos mamíferos, répteis e insectos Pedro Cotter
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O Falcão Peneireiro alimenta-se, sobretudo, de pequenos mamíferos, répteis e insectos Pedro Cotter
Daqui a dois a três anos, as crias devem regressar ao local onde nasceram para nidificar Pedro Cotter
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Daqui a dois a três anos, as crias devem regressar ao local onde nasceram para nidificar Pedro Cotter

Já lá vão quase três meses desde que os falcões “Zuzu e Margarida" - e as seis crias do casal - deixaram o ninho improvisado, em forma de floreira, no segundo andar de um prédio na Amadora.

O fenómeno do nascimento das crias foi assistido por milhares de portugueses, tendo atingido quase 15 mil “likes” na página do Facebook

Durante toda a fase de nidificação até ao voo das aves, “houve um crescendo de movimentação” nas redes sociais, conta Pedro Cotter, proprietário do apartamento e autor dos vídeos de "Zuzu e Margarida". Também a janela do quarto da Maria Cotter, a filha de seis anos, nunca mais foi a mesma, desde que o dia-a-dia dos falcões, transmitido em directo na página “Novidades de Encantar”, alcançou visibilidade nos meios nacionais de comunicação social.

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Voo do macho, Zuzu, à procura de alimento para as crias Pedro Cotter

A vida normal recuperada

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As seis crias do casal de falcões

“Agora, logicamente, a história já acabou e a página está adormecida”. A vida da família Cotter regressou à normalidade após dois meses de agitação. “A Maria já está outra vez no quarto dela”, que durante a passagem dos falcões so era usado de dia, para não os perturbar.

“Zuzu” e Margarida devem voltar ao ninho, no próximo ano, em Maio, pela mesma altura. Quanto às crias, só passados dois a três anos para nidificar naquela zona. Com o apoio da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves e do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, as aves encontram-se identificadas com anilhas, para o caso de serem encontradas mortas ou capturadas.

“As pessoas longe a longe recordam e dizem que têm saudades e que esperam que para o ano volte a acontecer.” Se o fenómeno se repetir, talvez não existam imagens de novo: “Não sei se para o ano vou colocar a webcam”, refere ao lembrar o esforço de trabalho e os contratempos do mediatismo.

Em Portugal, a nidificação de falcões nas janelas não é invulgar. O que realmente diferenciou, revela, foi a existência de uma webcam a transmitir 24 horas por dia, permitindo que as pessoas acompanhassem os falcões em tempo real, “tipo Big Brother”. “E no fundo foi isso que ligou as pessoas”, afirma.

Popular mas com interesse científico 

Mas para além do lado "popular", o fenómeno despertou também o interesse de especialistas que se dedicam ao estudo do comportamento das aves de rapina. "Há uma seria de episódios interessantes, por exemplo, de uma cria que estava doente, parecia quase morta, e eu observei as outras crias a alimentarem-na, e quem estuda as aves diz que isto é impossível por causa da competição entre crias", relembra.

  

As imagens recolhidas vão dar origem, no final do ano, a um documentário. Qualquer pessoa poderá perceber a história desde o início e para quem estuda o "Falcão Peneireiro", nome comum da espécie, o vídeo pode ser uma ferramenta de observação científica. 

Apesar de alguma resistência ao fenómeno entre a vizinhança, por questões higiénicas, Pedro Cotter apela à sensibilidade das pessoas para protegerem os ninhos dos falcões, pois “estes animais ajudam à desratização”, defende. 

Ao todo, os falcões da família Cotter consumiam entre 20 a 30 ratos por dia, caçados nas redondezas. Sendo uma zona urbana, a desratização “é uma forma de vida que é benéfica para a cidade e as pessoas deviam ter isso em conta”, sublinha.

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