Macau, onde o Ocidente e o Oriente se juntam

Em 1999, Portugal devolveu Macau à China. Ao abrigo da sua autonomia, o território, que já ultrapassou Las Vegas em termos de receitas de jogo, é visto como o elo de ligação entre a milenar China e a lusofonia. Pelo menos até 2049

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Daniel Rocha

A hora é tardia. Estão 30 graus, chove e a humidade situa-se em valores na ordem dos 90%. Macau é assim, tem um clima muito próprio. Mas o território tem outras especificidades.

Conhecido no mundo pelo jogo, Macau é uma Região Administrativa Especial da República Popular da China. Nos cerca de 28 quilómetros quadrados, a Cidade do Santo Nome de Deus – como também é conhecida – não está longe dos 600 mil habitantes, o que a torna na cidade com maior número de pessoas por pedaço de terra disponível à escala global.

Os casinos trouxeram o desafogamento económico que, por exemplo, a Europa ou os EUA invejam. No total, a “Las Vegas do Oriente” possui 34 salas de jogo entre as quais está o maior casino do mundo – o Venetian. A economia gira em torno deste fenómeno, que viu a sua liberalização no final de 2001, quando o prazo da concessão do monopólio de Stanley Ho expirou. Paralelamente, o Governo pretende dar outro cunho a Macau. As autoridades têm vindo a terreiro defender o território como um Centro Internacional de Turismo e Lazer. Aqui há Património Mundial da Humanidade da UNESCO. Apesar disso, a agência da ONU já avisou que o trabalho de casa não está a ser bem feito, tendo levado o Governo a reformular as leis de protecção do património.

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Em 1999, Portugal devolveu Macau à China Manuel Roberto

A multiculturalidade de Macau dá outro colorido ao território. Actualmente, quase que arrisco a dizer que existe, pelo menos, um indivíduo de cada país. De acordo com números oficiais, a maioria da população é, naturalmente, de origem chinesa, sendo que os filipinos, os indonésios e os portugueses, compõem os restantes lugares do "ranking". Estima-se que existam cerca de 130.000 portugueses em Macau e em Hong Kong. A grande maioria é de origem chinesa, entre 3.000 a 3.500 são oriundos de Portugal e entre 10.000 a 15.000 são os chamados macaenses.

Seja como for, muitos mais vão chegando. As autoridades revelaram, recentemente, que são cada vez mais os portugueses que chegam a Macau com a ânsia de procurar um porto seguro para as suas vidas e, ao contrário do que sucede com outras nacionalidades, os lusos que chegam a Macau com um contrato de trabalho passam a ser titulares do bilhete de identidade de residente não permanente.

Eu estou nesse pote desde 2010, altura em que cheguei ao território. Se ficar pelo menos sete anos, é bem possível que o meu bilhete de identidade passe a permanente. Uma curiosidade: o Governo paga um cheque pecuniário anual aos residentes – 4.200 patacas [420 euros] para os não-permanentes e 7.000 patacas [700 euros] para os permanentes. Caricato, não?

E até 2049, a coisa pode continuar a piar desta forma. O português continua, a par do cantonês, como umas das línguas oficiais – e Pequim já veio alertar para esse cumprimento à risca -, o Direito de Macau é de matriz portuguesa e o Governo pretende que Macau seja uma plataforma de ligação entre a China, Portugal e os restantes países lusófonos.

Aliás, recentemente, o chefe do executivo de Macau, Fernando Chui Sai On, prometeu que o Governo local “vai continuar a preservar a cultura, língua e costumes portugueses, a coexistência das características da cultura sino-portuguesa em Macau, ao abrigo da Declaração Conjunta entre Portugal e a China, e da Lei Básica de Macau”. A ver vamos!

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