Investigadores: mais bolsas não resolvem precariedade

Ministério anunciou abertura de mais 200 ou 300 vagas para investigadores no próximo ano. Bolseiros de FCT e docentes universitário dizem que medida é positiva, mas não chega

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No próximo ano serão abertas 200 a 300 vagas para investigadores da FCT Miguel Manso

Os investigadores que na sexta-feira divulgaram um documento a apelar ao investimento na ciência consideram positiva a anunciada abertura de 200 a 300 vagas para cientistas, mas salientam que isso não resolve a precariedade da classe.

A secretária de Estado da Ciência, Leonor Parreira, anunciou sábado à noite na Figueira da Foz que no próximo ano serão abertas 200 a 300 vagas para investigadores da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). A governante adiantou que o Ministério da Educação e da Ciência prevê abrir concursos anuais para investigadores FCT, de modo a conseguir “manter no sistema científico e tecnológico 1000 a 1200 investigadores”.


“Claro que é uma boa notícia, mas eu penso que essas 200 ou 300 vagas só vão prolongar a situação dos investigadores de ciência dos últimos anos”, considerou Ana Bastos, da Comissão de Bolseiros da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), que na sexta-feira divulgaram uma carta aberta ao ministro da Educação a alertar para o atraso nos pagamentos aos bolseiros e a pedir medidas urgentes para uma situação que “pode inviabilizar” a produção científica.

Contratos continuam precários

Ana Bastos salientou que nos últimos anos foram abertas vagas para os chamados investigadores de ciência, que são contratos plurianuais, e que permitem alguma segurança aos investigadores. “No entanto, não deixam de ser contratos temporários”, destacou.


No documento que dirigiram na sexta-feira ao ministro da Educação e Ciência, intitulado “Sem Ciência não há futuro”, 116 bolseiros da FCT e docentes universitários destacam atrasos no pagamento de vencimentos, na renovação de contratos de bolsas e no reembolso das prestações de Seguro Social Voluntário daquela entidade.


Os signatários pedem medidas para resolver estas questões, mas também uma política de incentivos para a criação de um mercado de trabalho que absorva esta mão-de-obra “altamente qualificada”, por considerarem que a aposta na Ciência é “uma das soluções mais eficazes para a saída da crise” económica.


Na carta aberta é realçado que os bolseiros de investigação são jovens recém-licenciados, mas também investigadores “altamente experientes de pós-doutoramento” e vivem com contratos de bolsa de três, seis ou 12 meses, “não progridem na carreira (que não existe), não têm direito a contrato de trabalho e os seus vencimentos não são actualizados há mais de dez anos”. Este grupo profissional “é a população mais qualificada de sempre e, por comparação, a mais precária”, refere o documento, explicando que “nunca os licenciados e doutorados representaram uma percentagem tão elevada dos desempregados”.


Entre os promotores da carta aberta estão a Comissão de Bolseiros da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, a Associação de Bolseiros de Investigação e Ciência (ABIC), o Núcleo de Bolseiros da Universidade de Aveiro e os Precários Inflexíveis (PI).

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