Londres cancela campanha a oferecer "terapia reparadora" para gays

Campanha criada por anglicanos e conservadores circularia nos autocarros londrinos ostentando a mensagem “Não sou gay! Sou post-gay, ex-gay e orgulho-me disso. Ultrapassem isso!”

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GuillaumeL/Flickr

O presidente da Câmara de Londres, Boris Johnson, mandou cancelar a campanha que deveria, muito em breve, começar a circular pelos autocarros de Londres e onde se lia a frase: “Não sou gay! Sou post-gay, ex-gay e orgulho-me disso. Ultrapassem isso!”. As organizações de defesa dos direitos dos homossexuais apelidaram o anúncio de homofóbico.

A campanha é da autoria de dois grupos anglicanos e conservadores — o Core Issues Trust e o Anglican Mainstream — que defendem que a homossexualidade é algo que se pode tratar.

Mike Davidson, líder do Core Issues Trust  que acredita que “o comportamento homo-erótico é pecado” -, diz que o seu grupo tem por missão fornecer “terapia reparadora” aos cristãos gays, dando-lhes “potencial heterossexual”.

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Frase que iria ser usada na campanha

Já a Anglican Mainstream, um grupo anglicano ortodoxo que tem ramificações pelo mundo, identifica a homossexualidade com o alcoolismo, indica o “The Guardian”, a quem Boris Johnson confirmou hoje a suspensão desta campanha.

"Intolerante" com a intolerância

“Londres é uma das cidades mais tolerantes do mundo e é intolerante apenas com a intolerância. É claramente ofensiva a sugestão que ser gay é uma doença de que é possível recuperar e não estou disposto a ter essa sugestão a percorrer as ruas de Londres nos nossos autocarros”, disse o autarca, citado por aquele jornal londrino.

O grande rival de Boris Johnson nas eleições autárquicas do próximo mês, Ken Livingstone, afirmou por seu lado que Johnson nunca deveria ter permitido que semelhante campanha fosse autorizada. “Londres está a andar para trás sob esta liderança conservadora que deveria ter tornado este tipo de anúncios impossível. Eles promovem uma ideia falsa, a ideia homofóbica de ‘terapia’ para uma mudança da orientação sexual de lésbicas e homens gay”, disse Livingstone.

Os grupos anglicanos por detrás desta campanha falhada frisaram que ela foi autorizada quer pelos Transportes de Londres - supervisionada pelo presidente da câmara - quer pelo Committee of Advertising Practice, que regula os anúncios publicitários.

“Não estava a par do facto de estarmos em censura. Percorremos os caminhos correctos e fomos encorajados [...] a avançar com os procedimentos. A campanha foi autorizada e agora foi suspensa”, afirmou Mike Davidson, líder do Core Issues Trust.

A frase usada nesta campanha era uma resposta directa ao grupo de defesa dos direitos dos homossexuais Stonewall que lançou recentemente uma campanha nos autocarros londrinos em defesa do casamento gay e que escreve o seguinte: “Algumas pessoas são gay. Ultrapassem isso!”. Os grupos anglicanos usaram exactamente o mesmo esquema de cores usado pelo grupo Stonewall.

Ben Summerskill, director executivo da Stonewall, afirmou que os anúncios são “claramente homofóbicos” e acrescentou: “A única razão pela qual alguns gays poderão querer deixar de ser gays é por causa do preconceito das pessoas que querem publicar este tipo de anúncios”.

Summerskill, disse, porém, que os anúncios não deveriam ser banidos, uma vez que a sua organização acredita na liberdade de expressão.

As tentativas de tratar ou alterar a orientação sexual têm sido duramente criticadas pelas principais organizações médicas britânicas, nomeadamente pelo Royal College of Psychiatrists e pela British Medical Association, que considera que a chamada “terapia de conversão” “não tem crédito” e pode até ser “prejudicial” para as pessoas que são “tratadas”.

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