Holandeses à procura da credibilidade perdida

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Reuters/JOHN SIBLEY

Johan Cruyff, Ruud Krol, Johan Neeskens, Marco van Basten, Ruud Gullit, Frank Rijkaard, Dennis Bergkamp, Robin van Pierse, Patrick Kluivert, Arjen Robben, Ruud van Nistelrooy, Wesley Sneijder, Marc Overmars, Clarence Seedorf. Ao compilar-se uma lista dos holandeses que nas últimas cinco décadas inscreveram o seu nome na galeria dos notáveis do futebol, obrigatoriamente vai pecar-se por defeito. Do “futebol total” de Cruyff, passando pela “laranja mecânica” de Gullit e Van Basten, até ao “carrossel” de Robben e Sneijder, o futebol holandês tem sido temido e, principalmente, admirado por todos. Porém, após o Mundial 2014, a “laranja” perdeu o seu sumo e Portugal irá defrontar hoje, em Genebra, um rival à procura da credibilidade perdida.

Quando, a 14 de Junho, Rússia e Arábia Saudita derem o pontapé de saída para o Mundial 2018, entre os 32 países que vão disputar a principal prova de selecções de futebol do planeta não vão estar dois dos seus principais embaixadores. Para além da Itália, que em Novembro baqueou no play-off frente à Suécia falhando dessa forma, sessenta anos depois, a fase final de um Campeonato do Mundo, na Rússia não irá estar o 2.º (2010) e 3.º classificado (2014) das duas últimas edições da prova. No entanto, o mais recente fracasso da Holanda não foi tão inesperado como o da Itália.

Vice-campeã do Mundo em 2010, onde apenas caiu frente à Espanha a quatro minutos do final do prolongamento, e com um excelente terceiro lugar em 2014, prova onde humilhou os espanhóis (5-1) e onde não perdeu qualquer jogo - foi afastada nas meias-finais pela Argentina no desempate por penalidades -, o futebol da Holanda entrou em declínio no segundo semestre de 2015, com a nomeação de Danny Blind para seu seleccionador. Com apenas uma época de experiência como treinador, o antigo jogador do Sparta Roterdão e Ajax substituiu em Junho de 2015 Guus Hiddink e, sob o seu comando, a “laranja mecânica” nunca funcionou. Com peças fulcrais, como Sneijder, Robben ou van Persie na fase descendente da carreira, Blind foi incapaz de descobrir na historicamente produtiva fábrica de talentos holandesa qualidade para manter a sua selecção no topo e o apuramento para o Euro 2016 resultou em desastre: ultrapassada por República Checa, Islândia e Turquia, a Holanda foi menos um obstáculo para o sucesso de Portugal em França.

Apesar do fracasso, Blind não caiu. Com o Mundial da Rússia como meta, a federação holandesa manteve a confiança no antigo defesa. O fiasco, porém, repetiu-se. Com rivais mais competentes, a Holanda somou duas derrotas (França e Bulgária) e um empate (Suécia) no arranque do apuramento para o Mundial 2018, e, a 26 de Março de 2017, com as hipóteses de qualificação hipotecadas, Blind foi demitido. Seguiu-se Dick Advocaat, que no passado já tinha liderado, em dois momentos diferentes, a Holanda. Embora tenha sofrido uma derrota no Stade de France, o experiente técnico somou quatro vitórias em cinco jogos e igualou a Suécia no segundo lugar do Grupo A. Porém, o saldo de golos fez a diferença a favor dos suecos, deixando a Holanda sem hipóteses de defender os dois pódios consecutivos.

Com dois apuramentos consecutivos falhados, o que já não acontecia há três décadas, a Holanda aposta agora todas as fichas em Ronald Koeman. Em funções há pouco mais de um mês e com um contrato de longa duração (quatro anos), o antigo treinador do Benfica começou a preparar uma nova “laranja”, já sem Robben ou Sneijder, e para os dois primeiros testes chamou meia-dúzia de jovens promissores: Justin Kluivert, Matthijs de Ligt, Fosu-Mensah, Donny van de Beek, Steven Bergwijn e Guus Til. No primeiro ensaio, contra a Inglaterra, Koeman apostou num novo sistema (3x4x3), mas a superioridade dos britânicos, que venceram em Amesterdão por 1-0, foi clara. Contra Portugal, Koeman promete continuar as experiências e olhando para o passado, a esperança dos holandeses é que a história se repita: após falharem o apuramento para o Euro 84 e Mundial 86, a Holanda deslumbrou na Alemanha e venceu o Campeonato da Europa de 1988.

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