Armadores exigem recuo do Governo na criação de zonas de interdição para a sardinha

Sector considera que os dados da pesca este ano mostram que o seu esforço tem dado resultados e recusam falar sequer em zonas de interdição.

Foto
quota anual da sardinha foi atingida esta semana pela frota portuguesa ruf rui farinha/NFactos

As organizações de armadores da pesca do cerco recusam taxativamente a criação, em 2018, de áreas de interdição da pesca de sardinha, conforme proposto nas reuniões da comissão de acompanhamento, e vão dizê-lo esta sexta-feira à ministra do Mar e ao secretário de Estado das Pescas. Ana Paula Vitorino e José Apolinário vão partilhar com o sector as conclusões da primeira reunião com os responsáveis espanhóis, com os quais estão a negociar as quotas de pesca deste recurso para o próximo ano.  

O Ministério do Mar não divulgou qualquer informação sobre a reunião entre José Apolinário e o seu homólogo espanhol, decorrida esta quinta-feira, explicando que pretendia reunir-se primeiro com os representantes dos armadores. Na reunião desta sexta-feira, Ana Paula Vitorino vai encontrar um sector disponível para aprofundar medidas de protecção do stock de sardinha, mas irredutível quando à proposta, tornada pública pela primeira na passada quarta-feira, de criação de duas zonas no-catch até à profundidade de 50 metros, entre a Comporta e a Ericeira, abrangendo a embocadura do Sado e do Tejo, e, a norte, entre a Foz do Mondego e Aveiro.

Reunidos esta quinta-feira em Lisboa, os pescadores, que atingiram a quota de 2017 esta semana, garantem que “a abundância de sardinha que se verificou este ano na costa portuguesa é significativamente superior à dos dois anos anteriores”, explicou ao PÚBLICO o presidente da Associação Nacional de Organizações de Produtores do Cerco (ANOP-Cerco). Segundo Humberto Jorge, o sector está “orgulhoso” com os dados das capturas, que considera serem fruto das “medidas vigorosas e difíceis tomadas pela frota, com sacrifícios para os pescadores”, e que, insiste, “levaram a um aumento da biomassa nestes dois anos, segundo o próprio ICES” - sigla inglesa do Conselho Internacional para a Exploração do Mar .

Os pescadores querem manter a quota actual, pelo menos, mas o ICES tem insistido que a manutenção do actual esforço de pesca dos dois países não permite elevar os níveis de biomassa desta espécie acima do limite crítico, e o próprio Governo português deu conta da intenção de apertar, com Espanha, as restrições à captura de Sardina pilchardus, para garantir o futuro deste recurso. E a possibilidade de criação de zonas tampão, em espaços marinhos reconhecidos pela sua importância para o desenvolvimento dos juvenis desta espécie, vai nesse sentido.

Os pescadores garantem estar disponíveis para continuar a fazer sacrifícios em defesa de um recurso essencial para a manutenção da sua própria actividade, mas vão propôr, como o PÚBLICO ontem adiantara, que em vez de áreas delimitadas, a seis meses da próxima safra, se avance para a criação de restrições temporárias, em tempo real, nas áreas onde venha a ser detectada a presença de cardumes de juvenis. E reitaram a intenção de propor a negociação, com Espanha do alargamento de dois para quatro meses do período de paragem obrigatória, e simultânea, da pesca nos dois países.

Humberto Jorge recusou-se a adiantar de que forma reagirá a ANOP-Cerco caso as suas propostas não sejam acolhidas.  E espera que o ministério acabe por tomar em consideração os argumentos de um sector que, vinca, se tem comportado com grande responsabilidade. “Ninguém, mais do que nós, quer garantir a sobrevivência e evolução positiva deste recurso”, insistiu o dirigente associativo. 

Sugerir correcção
Ler 3 comentários