Mais portuguesa do que nunca, a Volvo Ocean Race começa no domingo

A 1.ª etapa da prestigiada regata à volta do Mundo em barcos à vela parte de Alicante rumo a Lisboa, com passagem ao largo de Porto Santo.

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Reuters/HEINO KALIS

Quase 44 anos depois de o Sayulla II, um veleiro Swan 65 de bandeira mexicana comandado por Ramón Carlin, ter festejado em Portsmouth, no sul de Inglaterra, a vitória na primeira edição da Whitbread Round the World Race, competição que em 2005 foi rebaptizada de Volvo Ocean Race (VOR), aquela que é considerada a mais longa e difícil prova de circum-navegação por equipas arrancará amanhã de Alicante, mais portuguesa do que nunca: boatyard (estaleiro) e primeiro stopover da prova em Lisboa, com passagem da primeira etapa ao largo de Porto Santo; um barco com bandeira de Portugal; três velejadores nacionais em duas das sete tripulações em competição.

Em 43 anos de existência, será o percurso mais longo (e previsivelmente mais duro) de sempre. A 13.ª edição da VOR deverá prolongar-se por mais de oito meses e terá paragens em 13 cidades distribuídas por cinco continentes. No total, serão mais de 80 mil quilómetros que começarão a ser percorridos amanhã, a partir de Alicante, em Espanha, rumo a Lisboa, numa primeira etapa com uma alteração de percurso de última hora, que veio trazer ainda mais portugalidade à regata: condições meteorológicas adversas no mar Mediterrâneo levaram a organização da VOR a proceder a uma mudança na rota da etapa inicial e, após a saída de Alicante, os Volvo 65 vão dirigir-se para a Madeira, onde terão que contornar Porto Santo, previsivelmente entre quarta e quinta-feira, rumando em seguida para Lisboa. Na capital portuguesa, haverá lugar a uma regata costeira, a 28 de Outubro, estando a partida para a segunda etapa, que ligará Lisboa à Cidade do Cabo, na África do Sul, prevista para 5 de Novembro.

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Lisboa ganha força

A primeira impressão digital de Portugal na VOR surgiu em 1989-90, quando João Cabeçadas participou na 5.ª edição da competição que seria conquistada pelo Steinlager 2, veleiro liderado por um nome grande da vela mundial: o neozelandês Peter Blake. Mais de duas décadas depois, a maré começou a mudar e a ligação portuguesa à maior prova de vela oceânica do mundo passou de esporádica a permanente.

Em 2011-12, na 11.ª edição, Portugal entrou pela primeira vez na rota da prova, quando Lisboa foi escolhida como um dos stopovers da competição. O sucesso da organização portuguesa abriu caminho a uma ligação que, edição após edição, se tem tornado mais forte. E quando amanhã os Volvo Race 65 partirem de Alicante, terão como destino a capital portuguesa, que assume na 13.ª edição da competição um papel fulcral. Para além de acolher o final da primeira etapa, Lisboa é a partir desta edição a base permanente do boatyard (estaleiro) da VOR, instalado nos antigos armazéns da Docapesca, na Doca de Pedrouços, onde os sete veleiros que vão fazer a prova fizeram o seu refit (remodelação).

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No entanto, nesta edição da VOR, Portugal não se fará representar apenas logisticamente. A Turn The Tide On Plastic, equipa que terá bandeira de Portugal por via do investimento da Fundação Mirpuri, organização sem fins lucrativos criada pelo empresário e filantropo português Paulo Mirpuri, anunciou no final de Agosto que Bernardo Freitas e Frederico Pinheiro de Melo, dois atletas olímpicos, foram seleccionados para integrar a única equipa que terá uma mulher como skipper: a britânica Dee Caffari.

Duas semanas mais tarde, chegou outra excelente notícia para a vela portuguesa. A SHK Scallywag, primeira equipa de Hong Kong a participar na VOR, já tinha nove velejadores confirmados — cinco australianos, dois ingleses, um neozelandês e um natural de Hong Kong —, e anunciou o décimo elemento: António Fontes, velejador português, de 34 anos, com uma vasta experiência em provas offshore e com experiência de trabalho no boatyard da VOR ao longo dos dois últimos anos.

As duas equipas que têm tripulantes portugueses não estão, no entanto, no grupo das favoritas. Ainda assim, Dee Caffari acredita que pode deixar uma boa impressão: “Toda a gente fala da Turn the Tide on Plastic como uma formação inexperiente. Muitos dos meus velejadores são estreantes, mas são talentosos e sabem como colocar o barco a navegar depressa. Só precisamos de nos certificar de que não cometemos erros e que velejamos para o local correcto”, anotou onte, na conferência conjunta de lançamento da regata.

Dongfeng e MAPFRE em alta

Dongfeng Race Team, AzkoNobel, MAPFRE, Vestas e Team Brunel são os barcos com mais trunfos para lutar pela vitória, sendo que o veleiro franco-chinês (Dongfeng), liderado pelo categorizado skipper bretão Charles Caudrelier, e o espanhol (MAPFRE), que tem uma “armada” de luxo — Xabi Fernández, Louis Sinclair e Blair Tuke, entre outros —, mostraram na “leg zero”, realizada em Agosto, que os seus Volvo Race 65, veleiros de 20 metros e nove toneladas, partem ligeiramente à frente da concorrência, tendo terminado no dois primeiros lugares. O pódio ficou fechado com a presença do holandês Team Brunel, de Bouwe Bekking, Andrew Cape e Peter Burling.

Os três primeiros classificados da “leg zero”, o único frente a frente entre todos os barcos antes do início da prova, participaram na última edição da VOR, o que vem confirmar que a experiência (ainda) é um posto e pode fazer a diferença perante as enormes dificuldades que as sete tripulações vão encontrar nos próximos oito meses em alguns dos lugares mais inóspitos do planeta.

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