Dos produtos regionais aos palavrões que valem cartões

O PÚBLICO consultou os relatórios dos árbitros das sete primeiras jornadas da Liga e concluiu que há registos diferentes, uns mais sóbrios, outros mais literais. E que metade dos clubes não faz qualquer oferta.

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Os relatórios dos árbitros passaram a ser públicos desde o início da temporada Nelson Garrido

Depois de muita polémica com “vouchers”, camisolas e outras ofertas, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF), tal como tinha prometido, decidiu começar a divulgar os relatórios dos árbitros de todos os jogos da Liga portuguesa. E, para além da normal ficha de jogo com os jogadores, os treinadores, quem está no banco principal e no banco suplementar (sim, há um banco suplementar), os golos e as ocasiões em que o árbitro mostrou cartões e respectiva justificação, também existe a secção ocorrências, e é aqui que estão descritas as ofertas que os clubes fazem à equipa de arbitragem, e não só. Mas já lá vamos.

Primeiro vamos à forma como os árbitros justificam as sanções disciplinares aos jogadores. A maioria é pouco descritiva, para não dizer que são muito vagos, sobretudo quando são cartões por palavras ao árbitro. Mas há excepções e alguns são mesmo literais a reproduzir aquilo que ouviram no campo. O mais literal em todos os árbitros de todos os jogos das sete primeiras jornadas foi Fábio Veríssimo, que não deixa nenhum palavrão de fora na hora de justificar as expulsões de Jubal e Zainadine aos 63 do Vitória de Guimarães-Marítimo da sétima jornada, jogo disputado no D. Afonso Henriques e que acabou com um triunfo dos minhotos.

Eis o que escreve o árbitro da AF Leiria sobre o vermelho directo que mostrou ao brasileiro do Vitória: “Respondeu a provocações verbais grosseiras, injurias e ameaças por parte do seu adversário nº5 [Zainadine], dizendo:"Vai para a puta que pariu seu filho de uma puta...Vou-te te foder, cabrão!" O moçambicano do Marítimo, segundo Veríssimo, não ficou atrás no vernáculo: “Linguagem ou gestos ofensivos, injuriosos ou grosseiros. Deslocou-se desde a sua área até ao meio de adversário aquando de uma assistência a um colega de equipa, entrando em provocação verbais grosseiras, injurias e ameaças em direcção do seu adversário nº33 [Jubal], dizendo: "És um filho da puta do caralho... Vai para a puta da tua mãe...Quem pensas que és tu palhaço?"

Esse jogo foi, aliás, fértil em incidentes de acordo com o relatório do árbitro. Aos 13’, alguém da bancada onde estavam adeptos do Vitória arremessou um isqueiro “direção do jogador que se preparava para executar o lançamento de linha lateral”, entrando no terreno de jogo, mas não acertando em ninguém. No final, o clube vitoriano, talvez por estar satisfeito com o resultado, teve a “amabilidade” de oferecer a Veríssimo “artigos alusivos ao clube e à região minhota. (Cachecol, doces e uma peça de artesanato).” Este foi mesmo o exemplo mais extremo que os árbitros detectaram nas primeiras sete jornadas ou que, pelo menos, escreveram no relatório.

Também há um espaço nos relatórios para observações do quarto árbitro, mas é raro ter alguma coisa escrita. Uma rara excepção aparece no relatório do Vitória de Setúbal-Sp. Braga da quinta jornada, jogo realizado no Estádio do Bonfim. E foi isto que Bruno Paixão (que é de Setúbal) viu e ouviu no Bonfim: ““Antes do início do jogo os adeptos afetos a equipa da casa entoaram de forma audível as seguintes ofensas: "Gatuno! Gatuno!"; "Árbitros e delegados da liga são todos corruptos!" (Varias vezes).”

As observações finais são dedicadas as várias coisas. Neles, os árbitros dizem os minutos de compensação que dão em cada parte, referem a ocasional falha no sistema de iluminação, os atrasos no início (e reatamento) do jogo, para os quais nunca conseguem encontrar uma explicação e, claro, as ofertas dos clubes. Alguns fazem ofertas, mesmo na condição de visitantes, como é o caso de Benfica, que viajam com camisolas e garrafas de vinho para oferecer, ou do Sporting, que leva camisolas do clube. O que também da para perceber é que metade dos clubes da principal divisão portuguesa não faz qualquer oferta aos árbitros, se calhar porque, com a introdução do videoárbitro, já são demasiados árbitros para darem lembranças a todos.

Quem oferece o quê

Benfica – camisola e garrafas de vinho

Sporting – camisolas

FC Porto – roupões de banho e toalhas

Boavista – vinho do Porto

Feirense – Fogaça

Tondela – vinho da região

Belenenses – pastéis de belém e camisola do clube

Chaves – lembrança regional sem valor comercial

Vitória de Guimarães - Cachecois, doces e peças de artesanato

Quem não oferece nada

Marítimo, Sp. Braga, Rio Ave, Vitória de Setúbal, Moreirense, Paços de Ferreira, Portimonense, Estoril e Desportivo das Aves.

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