Coimbra no seu labirinto

Em Coimbra, os partidos parecem acreditar que ainda é possível fazer política de futuro com candidatos do passado.

Desde há muito que Coimbra se especializou na autoanálise, através de frequentes tertúlias e debates, ao mesmo tempo que institucionalmente se transformou num cemitério de planos estratégicos, centrando-se, sobretudo, no presente e alienando o futuro.

Saudosa do seu passado, repartida entre vários poderes, sendo o autárquico e o universitário os mais evidentes, ambicionando ser capital regional mas sem saber como o conseguir, espartilhada entre os dois grandes polos — Lisboa e Porto — que vão sugando o centro, vive uma angustiante ausência de identidade e uma consequente incapacidade de perceber o que é e o que quer ser.

Neste contexto, as eleições autárquicas que rapidamente se aproximam, para além de obrigarem a debater o debatido, deveriam ser o entusiasmante momento do futuro, capaz de romper com as águas paradas e com os bloqueios que de há muito se conhecem.

Só que as expectativas, face ao quadro já conhecido, são dececionantes. Primeiro, porque se acentua a propensão para a personalização das candidaturas e depois porque não há uma ideia galvanizadora ou mesmo uma simples novidade conceptual.

O que se vê é que há uma escolha idiossincrática em detrimento de uma opção programática, mobilizadora dos eleitores, capaz de um levantamento da alma da cidade e de a fazer acreditar que pode desempenhar um papel relevante no contexto regional e nacional pelos seus méritos e não por imposição de alguém, como acontecia num passado. O que foi dado a perceber até ao momento é que há candidatos escolhidos ou oferecidos por serem, sobretudo, anti-Machado.

Sendo impossível romper com a lógica personalista em que a fotografia do candidato conta mais do que o seu programa, também é verdade que os partidos e forças políticas locais evidenciam uma gritante incapacidade de renovação, parecendo acreditar que ainda é possível fazer política de futuro com candidatos do passado. Candidatos do passado não por razões etárias ou geracionais, mas pela forma de estar e de fazer política, que se alimentam do poder ou da confrontação em detrimento de uma postura cooperante e integradora e de uma liderança mobilizadora.

Desta vez, e depois do movimento surgido nas anteriores eleições que se vem esboroando porque assentou num equívoco, aparece mais um movimento que se propõe eleger um independente. Só que mais do que uma expressão coletiva de desconforto pela situação existente trata-se da tentativa de aproveitar e rentabilizar a imagem de alguém, que no desempenho de funções corporativas teve uma significativa projeção mediática e uma boa imprensa a nível nacional.

Aliás, a apresentação do seu candidato que foi reclamar ajuda ao presidente da Câmara do Porto, esquecendo as diferenças de personalidade e de percurso e que este, sendo independente, foi eleito com apoio partidário, acabou por se revelar um flop, duvidando-se mesmo se será uma candidatura com pés para andar.

Que este não é o cenário que Coimbra merece parece evidente, tanto mais, e é bom não esquecê-lo, que nas anteriores eleições a abstenção foi elevadíssima e que nestes quatro anos houve uma evolução a nível social e económico que, tudo indica, cada vez se distancia mais das soluções autárquicas que se lhe apresentam.

Em política os milagres são raros e é sempre possível acontecer uma boa surpresa mas, de momento, Coimbra continua enredada no seu labirinto, desmotivada, sem saber como desenhar o futuro e descrente das suas capacidades.

O autor escreve segundo as normas do novo Acordo Ortográfico

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