Sporting-Benfica: antigas estrelas recordam os derbies mais marcantes

Balakov, Isaías, Sá Pinto e Rui Águas recordam os golos, vitórias e exibições mais marcantes nos confrontos entre Sporting e Benfica em que participaram.

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Sá Pinto e Dimas em 1995 DANIEL ROCHA/Daniel Rocha

As memórias do ex-jogador búlgaro Krasimir Balakov sobre os derbies disputados na I Liga portuguesa de futebol, ao serviço do Sporting, permanecem ainda bem vivas, mesmo já tendo passado 22 anos do último duelo com o Benfica.

Em entrevista à Lusa, o antigo médio dos “leões” assume que os embates com o rival "foram sempre os jogos mais extremados e emocionais" e que, por isso, tinham um ambiente "completamente diferente".

"Gostava de jogar estes jogos. Contra o Benfica marcava sempre golos, por isso é que ainda tenho também o respeito dos adeptos do Benfica. Tenho muitas pessoas que ainda me conhecem em Portugal. Marcava alguns golos contra o Benfica e, para mim, foi sempre um jogo especial", afirma.

Ao longo de cinco temporadas em Alvalade (1990/91 a 1994/95), o talentoso ex-internacional búlgaro participou em 168 jogos e apontou 60 golos. No que toca aos números em derbies, Balakov também deixou a sua marca, ao participar em nove encontros e apontar três golos, somando três vitórias, dois empates e quatro derrotas.

Entre os derbies realizados pelo Sporting, o antigo futebolista, hoje com 51 anos, recorda com particular significado um jogo em que brilhou quando ainda muita gente procurava o seu lugar nas bancadas, com pouco mais de dez segundos jogados no relvado, na época 1992/93.

"Foi aquele jogo em que marquei no primeiro minuto, no começo do jogo, no Estádio de Alvalade. Mas também tive jogos bons na Luz, como um em que marquei um chapéu a Preud'homme. Foi também um jogo muito especial. Os golos são importantes e ficam na memória do jogador, mas o mais importante é ganhar. Ganhar contra o rival nestes derbies fica para sempre", defende.

Na semana de mais um capítulo na história dos derbies, Krasimir Balakov lembra que um Sporting-Benfica "é uma festa do futebol português" e que tem um peso "importante para toda a gente no clube e para os adeptos", pelo que não deixa de manifestar o seu desejo para o desafio de sábado. "Vou torcer de longe pelo Sporting. É claro que o Sporting ficou no meu coração para sempre. Espero que o Sporting ganhe e dê alegrias a toda a massa associativa".

Isaías lembra o histórico 6-3 como o derby mais marcante

O antigo futebolista brasileiro Isaías guarda com especial carinho na memória o histórico 6-3 com que o Benfica venceu o Sporting em 1993/94, num triunfo que lançou então os 'encarnados' em definitivo para a conquista do título.

A dias de se jogar mais um duelo na história particular dos dois rivais de Lisboa, o ex-jogador do Benfica, hoje com 53 anos, realça que "muita gente não acreditava" naquela altura na capacidade da equipa para conseguir ultrapassar um Sporting poderoso em Alvalade e que alimentava também o sonho de ser campeão.

"Pelo momento que atravessava o Benfica e pela sua gestão — com salários em atraso e em que tínhamos de tentar resolver a questão ganhando o campeonato —, o derby mais marcante foi quando fomos a Alvalade ganhar 6-3. Até hoje as pessoas lembram esse desafio. Ficou marcado, mas todos os derbies tinham um gostinho especial", refere à Lusa o antigo avançado.

Nesse desafio, a 14 de maio de 1994, o Benfica entrou a perder, mas o clube da Luz viria a revelar-se mais forte, contando então também com o acerto do jogador brasileiro, que assinou dois dos seis golos 'encarnados'. Apesar do feito, Isaías considera que o momento mais marcante do jogo não chegou com nenhum dos seus golos, mas sim com o terceiro do colega João Pinto.

"Foi quando conseguimos dar a volta ao resultado. Tivemos um livre do lado direito, o Paneira centrou a bola ao segundo poste, eu consegui ganhar de cabeça e passei para o João Pinto, que fez o 3-2. A partir daí, ganhámos um pouco de tranquilidade e sentimos que poderíamos conquistar a vitória", frisa, evidenciando a "quebra de ânimo" entre os leões.

O facto de não ser internacional brasileiro num plantel que estava habituado a contar com vários jogadores desse calibre fez então Isaías assumir uma responsabilidade maior nos grandes duelos com os rivais para se poder equiparar sem condicionalismos aos colegas: "Tinha sempre de procurar fazer a diferença. Preparava-me de forma especial para estes jogos".

Durante cinco épocas na Luz, o jogador que se celebrizou pelo seu “pontapé-canhão” apontou cinco golos em oito duelos com o Sporting. Na memória estão não só os golos, mas também as inúmeras tentativas dos locais mais improváveis do campo, algo que o ex-jogador refere que era fruto do trabalho e não de pura sorte.

"É muito bom ter [essa lembrança dos adeptos] no currículo. Os adeptos não esquecem. Sempre fiz golos que as pessoas achavam impossíveis, mas eu sabia que não eram impossíveis, porque trabalhava com muita aplicação e dedicação durante a semana. A alegria do futebol não é uma jogada bonita, uma 'cueca' ou um chapéu, é a bola dentro das redes. E eu trabalhava para isso", sublinhou.

O contexto actual volta a colocar o Benfica na discussão pelo título nacional, mas desta feita os 'leões' parecem já correr por fora, numa fase em que o Sporting ocupa o terceiro posto, a oito pontos da liderança dos 'encarnados'. Porém, Isaías salienta o valor do adversário e a sua determinação em dar uma alegria aos respectivos adeptos.

"O Sporting vai fazer tudo para colocar uma pedra no caminho do Benfica. Tem esta oportunidade de atrapalhar a vida do Benfica em relação à possibilidade de conquistar o 36.º título. Por isso, o Benfica tem de jogar de igual para igual. A melhor maneira de evitar sofrer golos é ter a bola longe da baliza", sentenciou.

Sá Pinto recorda a "maior satisfação" de ganhar o único derby como treinador

Ricardo Sá Pinto está entre o lote de antigos futebolistas a poder orgulhar-se de ter participado na história do derby Sporting-Benfica como jogador e treinador e a sair com um saldo positivo em ambos os registos.

Se como atleta dos “leões” disputou 12 derbies para o campeonato nacional, somando nove vitórias, um empate e duas derrotas, no papel de treinador realizou apenas um jogo e voltou a sair vencedor (1-0, na época 2011/12).

"Participei em vários derbies enquanto jogador e recordo grandes jogos e grandes vitórias dessa altura, mas a única vitória que obtive num derby enquanto treinador recordo com uma grande alegria", começa por contar o actual treinador dos gregos do Atromitos.

Em declarações à Lusa, Sá Pinto assinala o impacto e a forma como essa vitória sobre o eterno rival foi alcançada, sublinhando a justiça de ganhar então a uma equipa orientada por Jorge Jesus, que ocupa agora o cargo do lado do Sporting. "Ganhámos por 1-0 ao Benfica em casa, num jogo em que fizemos uma grande exibição e em que podíamos ter ganho por muitos mais, se tivéssemos concretizado as oportunidades que criámos. Fomos claramente superiores", explica.

Tal como na presente temporada, o Benfica também lutava para conseguir chegar ao título, objectivo que viria então a fugir para o FC Porto. Para o antigo internacional português, o "Benfica era um adversário difícil" e era "claramente favorito".

"O Jorge Jesus era o treinador [do Benfica] na altura e penso que nos sete jogos que tinha jogado contra o Sporting nunca tinha perdido. Lembro-me também de que o Benfica nessa altura ainda sonhava com a conquista do título e com essa derrota ficou definitivamente afastado", acrescenta.

Assim, por ter sido o "primeiro e único derby até agora" realizado no papel de treinador, Sá Pinto destaca o sabor especial de ter saído vitorioso: "É o que eu recordo com maior satisfação".

Rui Águas relembra os golos e conversas com o pai sobre derbies

Filho do histórico antigo internacional português José Águas, Rui Águas brilhou também em nome próprio no futebol em Portugal e na história dos derbies, com uma participação em 14 duelos pelo Benfica frente ao Sporting.

Os números de “águia” ao peito têm o seu peso na memória do antigo avançado, mas este não esquece as conversas com o seu progenitor, num tempo em que "as rivalidades nasciam desde crianças" e o fair-play e a convivência saudável entre jogadores eram um imperativo dentro e fora da competição.

"O que o meu pai me contava — e que é um bom exemplo para hoje e para o que se vai passando — é que havia muita convivência entre os jogadores dos clubes. Lembro-me de que ele tinha um rival muito duro em campo, o Passos, que era central do Sporting, e eram muito amigos fora de campo", contou à Lusa o antigo avançado dos “encarnados”.

Destas conversas, Rui Águas assegura mesmo que a recordação mais duradoura não passava pelos resultados, sim pela diferença no convívio que era possível entre adversários: "Uma rivalidade é muito mais vivida pelos jogadores quando eles nascem nesse país. Nesse tempo, a esmagadora maioria dos jogadores era portuguesa e, por isso, tinha um significado acrescido".

Já a nível individual, a última impressão foi mesmo a mais forte para Rui Águas, que não esquece os 6-3 alcançados pelo Benfica em pleno Estádio José Alvalade, em termos colectivos, e os triunfos por 4-1 e 5-0. "Esse é dos derbies mais especiais. Em termos da minha prestação, talvez um 4-1 no Estádio da Luz, em que marquei dois golos, ou um 5-0 em casa, para a Taça de Portugal, em que marquei um golo muito bom. Mas também tive alguns pesadelos: estive nos 7-1 e também num jogo em que perdemos em casa e acabámos por perder o campeonato para o FC Porto", observa.

Para o ex-internacional português, o presente é agora outro, e o Benfica parte na liderança, com 71 pontos, mais três do que FC Porto e mais oito do que o Sporting. Por consequência, aponta um maior risco para as pretensões dos “encarnados”. "As duas equipas têm a perder, mas o Benfica tem mais a perder, não há dúvida. O Benfica joga para ser campeão e o Sporting joga para dar uma satisfação aos seus adeptos. A importância do resultado, no caso de uma vitória do Benfica, é grande. Penso que poderá quase resolver a questão do campeonato. No caso de derrota, aí põe-se a questão do título em aberto", remata.

O Sporting, terceiro classificado, com 63 pontos, recebe este sábado, às 20h30, o Benfica, líder, com 71, num jogo referente à 30.ª jornada da I Liga, marcado para o Estádio José Alvalade.

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