Parlamento condena ataques com armas químicas na Síria e ataque de S. Petersburgo

Foto
Rui Gaudencio

O Parlamento aprovou esta sexta-feira um voto de condenação pelo ataque com armas químicas na Síria proposto pelo PSD e pelo PS, mas chumbou um voto do PCP de condenação da agressão contra o povo sírio e das “operações de desestabilização visando sabotar as negociações de paz”.

No voto do PSD e PS apenas PCP e PEV votaram contra, enquanto o voto do PCP foi chumbado pelos socialistas e pela direita, e teve a abstenção do BE e do PAN.

O voto de condenação e pesar pelo atentado de São Petersburgo foi muito mais pacífico: foi subscrito por todas as bancadas, pelo deputado do PAN e pelo presidente da Assembleia da República e acabou, por isso, aprovado por unanimidade. "O terrorismo é uma ameaça que não conhece fronteiras e que merece, por isso, uma resposta cooperativo, global e integrada, na qual a República Portuguesa está profundamente empenhada", diz o voto.

O debate dos votos sobre a Síria fez com que o líder parlamentar comunista João Oliveira, e o deputado centrista Telmo Correia se envolvessem numa acesa discussão. João Oliveira dedicou a sua intervenção a criticar a acção norte-americana desta madrugada, avisando que “implica o perigo de uma maior escalada militar”. “Depois e ter organizado, armado, financiado e apoiado os grupos que levaram a guerra civil à Síria, a administração norte-americana decidiu mostrar mais uma vez que pretende impor o seu domínio mundial pela força das armas e com a ameaça da guerra.”

O comunista disse que se “repetem as acusações não comprovadas” de uso de armas químicas, desrespeitou-se a ONU, os direitos internacionais e “bombardeou-se um Estado soberano”, e defendeu ser “dever da Assembleia da República rejeitar a propaganda de guerra, condenar a guerra de agressão à Síria e ao seu povo, condenar o uso de armas químicas e a mentira sobre o seu uso, apelar à paz e ao respeito pelos direitos humanos e do povo sírio à soberania”.

Telmo Correia criticou o líder parlamentar comunista por este culpar os Estados Unidos de todos os males do mundo, chegando mesmo a dizer que os comunistas estão ainda “bloqueados” em 1940 ou em 1917. “Tenham vergonha!”, gritou.

O social-democrata Sérgio Azevedo considerou o ataque com armas químicas “um dos episódios mais graves deste longo conflito”, que “revela uma cobardia sem rosto” e que “exortou o que de pior há na humanidade”. “É mais um reflexo da barbárie e do desrespeito pelo direito humanos”, vincou, acrescentando que enquanto na Síria já morreram mais de 200 mil pessoas desde 2011, a “comunidade internacional passa o tempo no passa-culpas”.

PCP condena bombardeamento

Entretanto, o PCP emitiu um comunicado condenando “veementemente” o bombardeamento levado a cabo pelos Estados Unidos na noite de quinta-feira, considerando-o como um “acto de agressão em clara violação do direito internacional e da soberania e integridade territorial do Estado sírio”.

Para os comunistas, este foi “mais um acto de agressão” da guerra que há seis anos “é movida pelos EUA e seus aliados na Europa e no Médio Oriente –incluindo através da criação e apoio a grupos terroristas – contra a Síria e o seu povo”. O PCP, tal como fizera João Oliveira no plenário, lembra que o bombardeamento foi feito a pretexto do ataque com armas químicas de há dias em Khan Sheikoun, cuja autoria “carece de cabal esclarecimento”.

O partido insiste que “o objectivo dos EUA não é o combate ao terrorismo” mas “impor a sua hegemonia”. “Inserindo-se na tentativa de cortar caminhos de diálogo que levem à paz na Síria, este ataque encerra o perigo de uma escalada de imprevisíveis e graves consequências”, avisa o PCP, que se solidariza com a “resistência da República Árabe Síria e do seu povo contra a agressão de que são vítimas e em defesa da soberania, independência e integridade territorial do seu Estado e da paz”.

O PCP deixa ainda um aviso ao Governo de António Costa, ao defender que se “exige” a Portugal “uma postura que condene a agressão à Síria, e que pugne pela resolução pacífica dos conflitos, pela defesa intransigente da soberania dos povos e pelos princípios consagrados na Carta da ONU e do Direito Internacional”.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários