Clube Futebol Canelas, a coleccionar polémicas desde 2012

Com quatro subidas nos últimos quatro anos, a equipa de Vila Nova de Gaia viu, por maus motivos, o seu nome destacado nos últimos meses em jornais como a Marca, o The Sun ou Le Figaro.

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Paulo Pimenta

“Se há no mundo alguma coisa mais irritante do que sermos alguém de quem se fala, é ninguém falar de nós”. A frase de Oscar Wilde encaixa como uma luva nos últimos cinco anos do Canelas 2010. Até 2012, este clube de Vila Nova de Gaia apenas tinha sido notícia a nível nacional por ter defrontado em 1999 o Sporting para a Taça de Portugal, ainda com o nome de Canelas Gaia FC, mas no final do ano passado, após 12 equipas da Divisão de Elite da AF Porto se terem recusado a defrontar o clube onde joga Fernando Madureira, o líder dos Super Dragões, os gaienses ganharam, pelos piores motivos, projecção mediática à escala planetária.

Em Fevereiro de 2013, dois meses antes do Canelas 2010 conseguir a promoção da 2.ª para a 1.ª Divisão Distrital da AF Porto, uma publicação na página oficial da equipa gaiense no Facebook relembrava aos “pais de candidatos a futebolistas” os “valores” que deveriam “manter sempre presentes”. No ponto três, pedia-se que colaborassem com o clube “para que ele seja uma referência no fair play”; no ponto seguinte, alertava-se que “os árbitros são pessoas que acertam e que erram. Trata-os com respeito”. Quatro anos, quatro subidas de divisão e muitas polémicas depois, a publicação ganha contornos de escárnio.

Mas de que é feito o Canelas 2010, que nos últimos meses viu o seu nome destacado em jornais como a Marca, o The Sun ou Le Figaro? Fundado em 2010 e mantendo a estrutura do Canelas Gaia FC, dado como insolvente meia dúzia de anos antes, apenas em 2012-13 voltou a contar com uma equipa sénior masculina. Um dos impulsionadores do regresso foi Fernando Madureira. Líder dos Super Dragões e com um longo currículo como avançado de equipas das competições da AF Porto, Madureira abandonou em 2012 o Mocidade Sangemil “em divergência de ideias com a direcção do clube”. Nesse mesmo ano, surgiu o convite para se mudar para Vila Nova de Gaia. “Falaram comigo e disse que não ia sozinho, que tinha que levar os que andam sempre comigo. Aceitaram e a partir daí tem sido um sucesso”, afirmava o capitão do Canelas 2010 no final de 2012 ao site ZeroZero.

Entre os jogadores que faziam parte do núcleo duro que acompanhava Madureira desde os Passarinhos da Ribeira, estavam membros dos Super Dragões, como Chibante, Isaac, Aranha ou Marco Gonçalves, o protagonista da última polémica do Canelas 2010. Apesar de alguns relatos de violência e intimidação para os adversários, a meteórica ascensão dos gaienses foi passando despercebida, até que, em Fevereiro de 2016, a maioria dos presidentes dos adversários do Canelas 2010 na Divisão de Honra da AF Porto assumiram publicamente “o clima de terror e intimidação” dentro e fora do campo. Foi o princípio do fim do recato do Canelas 2010. Ainda nesse mês, a deslocação a Vila Caíz terminou em confrontos entre adeptos nas bancadas. Com apenas uma derrota em 21 jogos até essa partida, o Canelas 2010 perderia quatro dos nove jogos seguintes, mas conseguiu a promoção à Divisão de Elite.

Na antecâmara das competições nacionais, os “azuis e brancos” venceram as seis primeiras jornadas, mas no final de Outubro, 12 dos seus 13 adversários anunciaram que não iriam comparecer aos jogos contra o clube de Fernando Madureira. Jorge Ramalho, treinador do Pedrouços, uma das equipas que tinham anunciado o boicote, não escondia poucas semanas ao MinutoTV, canal que acompanha a prova, a sua revolta pelo que se tinha passado no duelo com o Canelas 2010: “Ando há 31 anos no futebol e nunca vi disto. Culpo estes árbitros, que não têm tomates, e os delegados da Associação que nada fazem. O Canelas tem umas regalias que não temos. Sei que os árbitros têm família e compreendo a situação deles, mas se não conseguem ‘fazer’ o Canelas, vetem o Canelas.”

Com vitórias por falta de comparência entre a 8.ª e a 24.ª jornada – excepção feita ao confronto com o vizinho Candal, que perderam por 0-2 -, os gaienses apuraram-se para o fase de subida, onde estrearam-se com uma derrota frente ao D. Aves B, por 0-4, num jogo onde Marco Gonçalves desperdiçou um penálti. Há uma semana, frente ao Lixa, que ficou em inferioridade numérica aos 20 minutos, ganharam por 2-0, mas as esperanças do Canelas 2010 em conseguir um lugar nas competições nacionais podem ter ficado hipotecadas no domingo, no segundo minuto do confronto com o Rio Tinto, com a violenta agressão de Marco Gonçalves, um dos “andam sempre” com Fernando Madureira, ao árbitro. Com ou sem promoção ao Campeonato de Portugal, o mediatismo e a colecção de polémicas do Canelas 2010 promete não ficar por aqui. 

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