Daniel Stern, o “Marv” de Sozinho em Casa, está de regresso à televisão – e nem sequer é Natal

A segunda temporada de Love, comédia romântica da Netflix em formato série, pisca o olho aos fãs dos repetidíssimos filmes dos anos 1990. E dá-lhes lugar de destaque na cultura pop. (Este artigo contém spoilers.)

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Daniel Stern, 59 anos, interpreta o pai da protagonista feminina de Love DR

Daniel Stern é o que leva com um ferro de engomar na testa. Que espeta o pé descalço num prego. Que berra e berra e berra, histérico, quando o miúdo Kevin McCallister lhe põe uma tarântula no rosto – na cena em que acaba a agredir Joe Pesci, violentamente, com um pé-de-cabra. Stern e Pesci formam a dupla de actores que dá corpo aos “bandidos” de Sozinho em Casa (1990), a dupla que tenta assaltar a habitação da jovem personagem de Macaulay Culkin, primeiro, e depois, em Sozinho em Casa 2 (1992), uma loja de brinquedos e uma casa devoluta em Nova Iorque, onde voltam a cruzar-se com Kevin. Stern é o mais alto – e estúpido.

Os filmes passaram na televisão portuguesa vezes sem conta. Passaram a ser quase um ritual natalício. No entanto, a maior parte do elenco aparece pouco nos nossos ecrãs. Joe Pesci surge episodicamente no cinema; John Heard (o pai de Kevin) participou em séries como Os Sopranos, CSI: Miami ou Prison Break; Catherine O'Hara (a mãe), que vimos em Sete Palmos de Terra, chega-nos sobretudo através da sua voz no cinema de animação; Kieran Culkin (o primo que bebe demasiada Pepsi, o que agudiza os problemas nocturnos de incontinência) protagonizou A Estranha Vida de Igby e participou em Scott Pilgrim Contra o Mundo e na série Fargo.

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A carreira de Daniel Stern tem sido feita sobretudo na televisão, mas em títulos que não têm tido lugar nas grelhas nacionais. Agora, duas décadas e meia após os filmes de Chris Columbus, o actor volta a entrar nas casas portuguesas – obra do Netflix e da sua comédia romântica Love, que à segunda temporada decidiu dar a Sozinho em Casa um lugar de relevo entre os geeks da cultura pop e polvilhar o argumento com presentes para os fãs do díptico original.

Em Love, Stern é Marty Dobbs, o pai da co-protagonista – e aparece tão depressa e inesperadamente como desaparece. O nome pode soar quase familiar: em Sozinho em Casa, Stern é Marv. Demasiado próximo? Talvez um acaso, mas o certo é que o filme é referido logo no segundo episódio desta segunda temporada, quando Gus (Paul Rust) conta a Mickey (Gillian Jacobs) que sonhou ter assassinado Osama bin Laden – no entanto, quando foi ver o corpo, encontrou Macaulay Culkin. Mickey arrisca uma interpretação: “Se calhar ainda estaria vivo se tivesse armadilhado a sua casa como no Sozinho em Casa”. “Sim, se ele tivesse deixado micro machines espalhados, a Team 6 dos Navy Seals teria escorregado neles”, brinca Gus.

Neste mesmo episódio, o nerdy Gus explica aos amigos como faz pouco sentido o facto de as personagens de Friends conversarem sobre Die Hard e depois não apontarem as semelhanças físicas entre Bruce Willis e o pai de uma namorada de Ross, que é interpretado pelo próprio Bruce Willis (se John McClane faz parte do universo de Friends, argumenta, deveriam ter reconhecido o actor). Algo que vai acontecer na história de Love com Daniel Stern alguns, episódios mais tarde. O Junkee, um site australiano dedicado à cultura pop, tem uma teoria: trata-se de “um dos easter eggs [brindes] televisivos mais intrincados e de nicho dos últimos tempos”.

Há cerca de duas semanas, Meg Watson, editora do Junkee, interpelou Lesley Arfin no Twitter sobre a ausência de referências directas a Stern e a Sozinho em Casa quando o pai de Mickey entra em cena (afinal, se Marv faz parte do universo de Love...). A argumentista da série da Netflix (e mulher de Paul Rust, o protagonista masculino) responde-lhe de forma lacónica: “Boa pergunta”. E mais não disse. Meg Watson, por seu lado, deu-se por satisfeita.

Marty Dobbs não é um criminoso como Marv Merchants, o “bandido molhado” de Sozinho em Casa, mas é uma personagem cheia de esquemas e projectos falhados que perdeu a licença de dentista por fraude com receitas médicas. Em entrevista à Vulture, a actriz Gillian Jacobs disse ter “adorado” o episódio com o pai da sua personagem. “O Daniel Stern é tão bom. Espero que sirva para criar empatia em relação à Mickey, no que diz respeito ao modelo contra o qual ela teve de crescer, e também a alguns comportamentos que ela adoptou e sobre os quais pode não estar plenamente consciente. Aquelas feridas da infância nunca saram completamente”.

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