Um livro sobre os 29 casos mais importantes da coabitação Cavaco-Sócrates

A este primeiro livro, sobre a relação institucional com José Sócrates, há-de seguir-se um segundo, com outros protagonistas. Pedro Passos Coelho, António José Seguro e António Costa deverão estar no centro dessa obra.

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Cavaco escreve sobre os primeiros anos em Belém Nelson Garrido
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A coabitação com Sócrates é descrita em 29 casos Daniel Rocha
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Os atrasos de Sócrates para as reuniões semanais são registados na obra Melanie Map's
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Cavaco referia-se à relação com Sócrates através da expressão: cooperação institucional Adriano Miranda
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Nem sempre a relação Belém-São Bento foi conflituosa, mas essa é a tónica mais forte no caso de Cavaco e Sócrates Daniel Rocha
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Cavaco deu pela primeira vez posse a Sócrates no segundo mandato deste, em 2009 Daniel Rocha

Quinta-feira e Outros Dias, o novo livro da autobiografia política de Aníbal Cavaco Silva, chega às bancas na próxima quinta-feira, dia 16, com "um nível de detalhe inédito na nossa democracia" sobre os 29 episódios mais relevantes do eixo Belém-São Bento no tempo do governo de José Sócrates. É o Expresso, na sua edição deste sábado, que faz a pré-publicação de dois dos 52 capítulos da obra - o primeiro e o 14º -, num trabalho de duas páginas.

A versão cavaquista das escutas de Belém, a escolha de Pinto Monteiro como Procurador-Geral da República, o Estatuto Político-Administrativo dos Açores, o fim da opção Ota para o novo aeroporto e a chegada da troika após o pedido de resgate são, de acordo com o semanário, alguns dos temas sobre os quais o ex-Presidente andou a escrever no último ano, no seu Gabinete do Sacramento.

No prefácio, explica que o que faz no livro é prestar "contas aos portugueses" sobre "componentes relevantes da magistratura que são, em larga medida, desconhecidos". Mais à frente, de acordo com o Expresso, justifica que sempre recusou "a política espectáculo, tão cara a muitos políticos por proporcionar notícias e fotografias, mas que não traz qualquer benefício aos país". Para já, fica a dúvida sobre se Cavaco se estará a referir a José Sócrates ou a Marcelo Rebelo de Sousa.

As reuniões com José Sócrates

Os encontros semanais com o primeiro-ministro José Sócrates, e alguns telefonemas, serviram de matéria-prima para este livro. Tudo foi devidamente anotado em blocos azuis de folhas A5, recorrendo a um "método de registo de intervenções e de conversa" que o ex-chefe de Estado admite ter desenvolvido nos tempos de estudante universitário e que lhe permite, segundo o próprio, relatar fielmente o que se passou.

Ao todo houve 188 encontros, normalmente às 17 horas de quinta-feira, como já era tradição nos tempos em que Cavaco Silva reunia com Mário Soares (o que aconteceu 300 vezes). Desses tempos, o ex-Presidente recorda reuniões "breves e sonolentas" com um interlocutor (soares) pouco interessado nas questões económicas e sociais. Pelo contrário, com José Sócrates, havia normalmente momentos vivos e intensos e o ex-primeiro-ministro apresentava-se bem preparado. Sobre Passos Coelho, Cavaco diz apenas que aparecia "geralmente sem uma preparação específica para as reuniões", mais longas, e que não tinha por hábito a iniciativa de começar a conversa ou lançar os temas.

Passos Coelho era, porém, pontual. Sócrates não. "Uma vez abusou no do atraso sem ter avisado previamente a Presidência da República e pedi que o informassem de que já não o receberia", conta Cavaco.

As reuniões realizavam-se na sala de audiências, onde o então Presidente mandou instalar, à esquerda da secretária "que pertencera ao Rei D. Luís, u8ma mesa redonda, com cerca de um metro de diâmetro, e duas cadeiras de braços, uma de frente para a outra". A ideia veio-lhe por se lembrar do incómodo que era tirar notas em "blocos de anotamentos pousados em cima dos joelhos", como acontecia quando se reunia com Soares, ambos sentados em sofás.

Na primeira parte do capítulo 14 pré-publicada pelo Expresso, Aníbal Cavaco Silva conta que chegou ao fim dos seus dois mandatos "pessoalmente realizado" e congratula-se por ter conseguido sempre guiar-se pelo "interesse nacional", o critério orientador da acção política que "Francisco Sá Carneiro costumava recordar aos seus ministros", sem confundir opinião pública com opinião publicada. A este propósito, enumera as suas regras de comportamento: Respeitar os procedimentos e regras da democracia; representar o país com dignidade; defender a estabilidade política; nao se envolver em disputas político-partidárias, não se deixar instrumentalizar; ser isento; falar verdade aos portugueses; e não alimentar intrigas políticas.

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