O Dylan do futuro

É bonito que Bob Dylan cante as canções que gostaria de ter escrito.

O que é que falta, como desafio, a Bob Dylan? O Prémio Nobel? Já tem. Gravar dois álbuns de standards? Já gravou. Competir com Frank Sinatra? Já competiu. E em canções como Where Are You? e Some Enchanted Evening pode até julgar-se, com razão, que ele ganhou.

Em 1979 Sinatra, com 64 anos, gravou um triplo álbum chamado Trilogy que, à parte o terceiro disco dedicado ao futuro, é muito bom. Este ano Dylan, com 75 anos, lançará um triplo álbum chamado Triplicateque, a julgar pelas canções já anunciadas, vai ser irresistível.

Não são covers, nem é country nem tão-pouco são as canções preferidas por Sinatra. Não há jogo de espelhos ou sinais de fumo. O que há é uma selecção genial de standards feita com a inteligência, sabedoria e sensibilidade de Bob Dylan.

Para se ficar com uma ideia da originalidade e da ousadia da escolha note-se que não há uma única canção escrita por Cole Porter, George Gershwin, Harry Warren, Lorenz Hart, Dorothy Fields ou Ira Gershwin. Só há uma de Jerome Kern. E há tantas canções de Richard Rodgers, Irving Berlin e Jimmy McHugh como há de Rube Bloom: só duas.

O autor mais cantado por Dylan, com oito canções (incluindo uma que assinou com o pseudónimo Kurt Adams) é o compositor Jimmy Van Heusen, um génio menosprezado que é finalmente reconhecido como merece. Sete letras são de Johnny Mercer, quatro de Johnny Burke e três de Carolyn Leigh. O único compositor com três canções é Harold Arlen.

É bonito que Bob Dylan cante as canções que gostaria de ter escrito. Mas é lindo cantá-las tão bem.

Sugerir correcção
Comentar